A seleção natural pode estar causando uma diminuição dos “genes da educação”

de Gustavo Teixera 0

Segundo cientistas, genes que predispõem as pessoas a atingirem níveis mais elevados de escolaridade entraram em declínio nos últimos 80 anos, e os pesquisadores estão sugerindo que eles estão agora sob seleção negativa, o que poderia ter um grande impacto em nossa espécie nos próximos séculos.

 

Um estudo envolvendo mais de 100.000 pessoas na Islândia descobriu que aqueles que carregam os “genes da educação”eram menos propensos a terem grandes famílias, o que significa que as pessoas mais inteligentes estariam realmente contribuindo menos para o background genético islandês.

 

O background genético é o conjunto de todos os genes alelos de uma população que, em algum momento, ocupam uma determinada área e trocam de genes entre si, formando a base para a geração seguinte. Como uma espécie, somos definidos pelo poder de nossos cérebros. A educação é o treinamento e refinamento de nossas capacidades mentais”, disse KariStefansson, CEO da empresa de genética islandesa deCODE, que coordenou o estudo.

 

Assim, é fascinante descobrir que fatores genéticos ligados a mais tempo gasto na instrução estão tornando-se mais raros” completou Stefansson.Para ser claro, isso não significa necessariamente que os seres humanos estão ficando mais burros, é preciso de muito mais evidência para chegar em qualquer conclusão como essa.

 

Há também o fato de que mais pessoas estão recebendo mais acesso à educação do que nunca, por isso mesmo que pessoas menos educadas tenham mais filhos, fatores nãogenéticos – comomais escolas – poderiamneutralizar e até mesmo se sobrepor ao efeito.

 

Mas se olharmos para a tendência, os pesquisadores dizem que poderia haver um efeito significativo sobre a nossa espécie a longo prazo. É notável relatar mudanças…elas são mensuráveis ao longo das várias décadas cobertas por este estudo. No tempo evolutivo, isso é um piscar de olhos, no entanto, se essa tendência persistir ao longo de muitos séculos, o impacto poderia ser profundo”, concluiu o estudo.

 

Os pesquisadores analisaram a taxa de natalidade de 129.808 indivíduos nascidos na Islândia entre 1910 e 1990, que tiveram seus genomas sequenciados, sendo, posteriormente, comparados com os níveis de instrução. Eles descobriram que havia um fator genético relacionado à probabilidade de uma pessoa frequentar a escola por mais tempo, e surgiu uma “pontuação poligênica” baseada em 620.000 variações de sequência no genoma humano para determinar a propensão genética de um indivíduo à educação.

 

A equipe também apontou que ninguém sabe a combinação exata entre os fatores genéticos e ambientais que eleva o nível de educação individualmente, mas estudos anteriores estimaram que o componente genético da realização educacional pôde se traduzir em até 40% da diferença entre os indivíduos.

 

Uma vez que a pontuação poligênica foi correlacionada com fatores como o nível de escolaridade, fertilidade e os anos de nascimento, os pesquisadores descobriram que aqueles com maior propensão genética à educação tendem a ter menos filhos.

 

Eles também descobriram que a pontuação poligênica média está diminuindo a uma taxa pequena, mas significativa em escala de tempo evolutiva. Como editor de Science,Ian Sample, relata para o jornal britânico The Guardian, a equipe encontrou uma queda no QI de cerca de 0,04 ponto por década, mas se todos os fatores genéticos que poderiam ser ligados à educação fossem levados em conta, esse número aumentaria para uma queda de 0,03 ponto por década.

 

Curiosamente, a ligação entre uma maior propensão a estudar e ter menos filhos não foi justificada simplesmente por que a vida profissional acabou minando a pessoal ou algo assim. A equipe sugere que os genes envolvidos na educação também podem afetar a fertilidade humana a um nível biológico.

 

Mesmo aqueles que carregavam os genes, mas que não estudaram mais, ainda tinham menos filhos do que aqueles sem esse diferencial genético.Aqueles que carregavam mais ‘genes da educação’ tendiam a ter menos filhos do que outros”, explicou Sample. Isso levou os cientistas a proporem que os genes se tornaram mais raros na população porque, apesar de todas as suas qualificações, pessoas mais educadas contribuíram menos do que outras para o background genético islandês”, completou.

 

Toda essa especulação é baseada apenas em um país, e é incrivelmente difícil prever o que vai acontecer com os seres humanos num futuro distante.Mas isso é certamente algo a ser observado, dizem os pesquisadores, e se alguma coisa destaca a importância de um esforço contínuo para garantir que cada ser humano tenha acesso à educação, porque isso pode substituir a seleção negativa que parece estar em jogo.

 

Apesar da seleção negativa contra essas variações de sequência, os níveis de educação vêm aumentando há décadas e, de fato, controlamos o ambiente em que esses fatores genéticos se desenvolvem: o sistema educacional”, afirmou Stefansson em comunicado à imprensa.

 

Se continuarmos a melhorar a disponibilidade e a qualidade das oportunidades educacionais, presumivelmente continuaremos a melhorar o nível educacional da sociedade como um todo. O tempo dirá se o declínio da propensão genética para a educação terá um impacto notável na sociedade humana”, finalizou.

[ Science Alert ] [ Fotos: Reprodução / Science Alert ] 

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