“Nellie Bly”: ativista feminista e jornalista que resolveu passar 10 dias internada em hospício

de Merelyn Cerqueira 0

Nascida de uma pequena cidade na Pensilvânia, em 1864, Elizabeth Jane Cochran perdeu o pai quando ainda era criança. Desde então, teve que ajudar a mãe a cuidar da casa e de seus 14 irmãos.

Considerando a época em que viveu, em que às mulheres majoritariamente eram destinadas apenas aos serviços domésticos, ela surpreendentemente se tornou uma jornalista.

Sob o pseudônimo de Nellie Bly, ela escreveu uma série de artigos contemporâneos para o jornal Pittsburgh Dispatch, onde falava sobre os direitos civis das mulheres e opressão.

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Bly também costumava se disfarçar para entrar em locais como fábricas, refúgios e lojas, a fim de observar mais de perto as terríveis condições de trabalhos que as mulheres eram submetidas. Em uma determinada ocasião, foi designada a uma tarefa no México, onde passou seis meses relatando as miseráveis condições de vida da população que vivia sob a ditatura de Porfirio Diaz.

Sua audácia, juntamente às críticas negativas que recebeu por falar de temas femininos tão abertamente, causaram sua demissão do jornal. Assim, em 1887, aos 23 anos, se mudou para Nova York.

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Graças à ajuda de contatos, ela foi convidada por um editor do New York World, o prestigiado jornal diário de Joseph Pulitzer, para um trabalho de jornalismo investigativo.

No entanto, a vaga pedia que trabalhasse infiltrada em um hospital psiquiátrico feminino, o Women’s Lunatic Asylum, localizado na ilha de Blackwell (atual ilha Roosevelt).

O local era envolto em rumores bizarros e ninguém sabia o que de fato acontecia ali e, por isso, a necessidade da investigação. Elizabeth aceitou o desafio, sob a promessa de que em 10 dias seria resgatada do local.

Nos primeiros dias, ela logo descobriu que o hospital abrigava mais pacientes do que podia comportar. Logo, as condições de vida ali eram banhadas em negligência. A comida era ruim, havia ratos por toda a parte, as pacientes eram amarradas, maltratadas e sexualmente abusadas.

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A jornalista descobriu ainda que uma boa parte das mulheres internadas sequer eram mentalmente incapazes. Algumas eram apenas pobres e que não sabiam falar inglês.

Como prometido, em seu 10º dia de internação Elizabeth foi resgatada. A experiência que viveu ali serviu como material para um livro que publicou logo que foi “libertada”, intitulado Dez Dias em Um Hospício (Ten Days in the Madhouse).  

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Seus relatos provocaram a abertura de um inquérito para investigar o local. Eventualmente, foi decidido que o Departamento de Caridade Pública e Correções deveria fazer vistorias mensais ao local e, desta forma, a vida das internas melhorou consideravelmente.

Elizabeth por outro lado, continuou se dedicando a profissão e ao ativismo social. Ela morreu em 1922, aos 57 anos, vítima de uma pneumonia. Entretanto, até os dias de hoje é considerada uma importante feminista e percursora do jornalismo investigativo.  

Fonte: The Grueling Truth Fotos: Reprodução / The Grueling Truth

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