Exigência por produção científica está resultando em sofrimento psicológico e transtornos psiquiátricos em estudantes de doutorado

de Julia Moretto 0

De acordo com um estudo realizado em 2013 e publicado pela revista científica Psicologia: Teoria e Pesquisa, a pressão colocada nos pesquisadores envolvidos nas pós-graduações – estudantes, orientadores e coordenadores – para obterem um novo produto bibliográfico, têm incentivado uma cultura de produtivismo e quantitativismo.

De maneira mais clara, a exigência de produção científica qualificada e em grande escala tem sido usada como parâmetro de avaliação dos programas. 

Por esse motivo, os observadores das políticas de pesquisa têm alertado sobre o impacto das atuais condições acadêmicas de trabalho na saúde mental, principalmente em estudantes de doutorado.

Essas exigências têm deixado os pesquisadores em condições de estresse físico e mental.

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Com isso, uma pesquisa feita na Universidade de Ghent, na Bélgica e publicada na Research Policy, do grupo Elsevier mostrou os efeitos do estresse em estudantes de doutorado.

Os resultados foram baseados em 12 sintomas de saúde mental e apresentaram que 32% dos estudantes de doutorado podem desenvolver um transtorno psiquiátrico comum, como depressão. 

Os principais motivos listados foram a falta de tempo para a família e os amigos, alta exigência do estudo, controle de tempo, o tipo de orientador e a noção de uma difícil carreira após a conclusão do trabalho.

Na opinião dos acadêmicos de pós-graduação, esse estudo não apresenta novidades, já que se tornou comum ver alunos de doutorado trabalhando sob estresse físico e mental.

De acordo com um artigo publicado no The Guardian, quando essas pessoas procuram ajuda, já estão deprimidas, com problemas de sono, transtorno alimentar, alcoolismo, baixa autoestima e tentativa de suicídio.

É notável que essas pessoas se isolam e mostram fisicamente que a saúde mental está abalada. Algumas desenvolvem acnes ou dermatites e algumas mulheres têm alteração no ciclo menstrual, que não se ajusta mesmo após o término do projeto.

Síndrome do Impostor

Este é um dos casos mais graves de depressão do pós-graduando, pois poucos se dão conta do problema.

De acordo com os relatos de um ex-estudante de doutorado em Física, que não teve o nome revelado, até mesmo antes do aparecimento dos seus problemas de saúde mental, ele sentia como se a sua carreira tivesse acontecido por acaso.

Ele começou a pensar se as notas da graduação, mestrado e dos demais testes já realizados não eram um erro do sistema da secretaria do curso.

Ele acreditava que era menos inteligente que seus colegas e que era um impostor no departamento de pesquisa da Universidade.

Ele acreditava que era burro, pois achava que os demais conseguiam avançar com os projetos enquanto ele enfrentava dificuldades. Esse sentimento aumentou sua ansiedade e triplicou os sintomas de depressão.

O problema ficou evidente quando ele abandonou o doutorado faltando apenas 4 meses para a data de defesa. Atualmente ele trabalha em outra área e decidiu abandonar de vez a área acadêmica. 

Fonte: Diário de Biologia Fotos: Reprodução / Diário de Biologia

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