Rota da Seda poderia ser milhares de anos mais antiga do que dizem os livros de História

de Merelyn Cerqueira 0

A famosa Rota da Seda, caminhos interconectados que passavam pelo sul da Ásia e serviam para o transporte e comércio da seda entre o Oriente e a Europa, pode ter suas raízes em um período ainda mais antigo do que imaginávamos.

Há um consenso de que ela pode ter sido usada entre 200 a.C. e século 14. No entanto, uma nova pesquisa publicada na revista Nature estabeleceu que essas antigas rotas têm origens anteriores às que historiadores uma vez assumiram. 

“O erro que muitas vezes é cometido quando falamos das Rotas da Seda é vê-las como algo que foi lançado em um ponto específico no tempo por estados poderosos”, disse o antropólogo Michael Frachetti, da Universidade de Washington. “Foi um processo dinâmico e flexível que gradualmente emergiu ao longo do tempo”.

As análises históricas do local concentraram-se em corredores comerciais principais, mais curtos e de menores custos, que ligavam importantes assentamentos a centros comerciais. No entanto, de acordo com Frachetti, essa abordagem trabalha apenas áreas de planície, onde as rotas diretas são possíveis. Logo, ela não reflete realmente a maneira como antigos fazendeiros e comerciantes moviam seus rebanhos por regiões mais montanhosas.

Logo, em sua nova hipótese, ele sugere que esses nômades, que viveram 5.000 anos atrás, teriam sido os verdadeiros construtores dos caminhos que mais tarde se tornariam famosos por transportar seda entre o Oriente e a Europa. 

“As localizações de cidades antigas, cidades, santuários e paragens de caravanas há muito ilustram pontos de interação ao longo desta vasta rede, mas definir suas muitas rotas tem sido muito mais difícil”, explicou Frachetti.

“Como resultado, pouco se sabe dos caminhos detalhados usados ​​por milênios por mercadores, monges e peregrinos para navegar e interagir entre as montanhas da Ásia”.

Para delinear esses caminhos entre as áreas mais montanhosas, a equipe de Frachetti desenvolveu modelos em computador para simular a mobilidade dos rebanhos a alturas de 750 a 4.000 metros – considerando no processo, janelas sazonais de quando teria sido mais prático e seguro o transporte de grandes rebanhos através das montanhas.

“Agregando 500 interações do modelo, revelamos uma rede de fluxo de alta resolução que simula como séculos de pastoreio nômade sazonal poderiam ter formado rotas discretas de conectividade pelas montanhas da Ásia”, escreveram os pesquisadores no artigo. 

O modelo, segundo eles, foi gerado de forma independente aos dados que traçam a localização dos assentamentos da Rota da Seda. Ainda, quando a equipe comparou seu gráfico de fluxo de rebanhos com a geografia original da Rota, alcançou uma correspondência de 74,4%.

Os pesquisadores ressaltam, no entanto, que o modelo não é uma prova final de que a Rota da Seda existiu como tal milhares de anos antes do que historiadores indicam, embora seja provável, dado o que sabemos sobre as antigas sociedades de pastoreio que viveram na região. 

“A arqueologia documenta o desenvolvimento das economias nas regiões montanhosas da Ásia já em 3.000 a.C.”, explicou Frachetti.

“E argumentamos que séculos de mobilidade ecologicamente estratégica por parte desses pastores gravaram as rotas fundamentais e geografia das antigas redes comerciais asiáticas”.

De acordo com os pesquisadores, estudar como a Rota da Seda permitiu o intercâmbio de cultura e comércio entre diferentes povos poderia nos dizer mais sobre as forças sociais do mundo moderno. 

“O que nosso estudo mostra é que os fortes centros urbanos de poder não são necessariamente vitais para criar redes flexíveis e economicamente importantes, mas sim que estas podem ter sido criadas por comunidades menores e não urbanas”, explicou Frachetti.

“As Rotas da Seda eram redes abertas e flexíveis, promovendo uma antiga forma de globalização que se tornou o motor da civilização ampla – processos que contrastam com o que vemos em movimentos isolacionistas que acontecem no momento”.

Fonte: Science Alert Fotos: Reprodução / Science Alert

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