A nova tendência perigosa de preenchimento labial caseiro; veja o que diz especialistas

de Redação Jornal Ciência 0

Buscando economizar em procedimentos estéticos, uma nova tendência ganha espaço nas redes sociais: vídeos que ensinam preenchimento labial caseiro usando “caneta injetora”. A prática virou “febre” entre os mais jovens.

Influenciadores digitais lançam orientações com supostos benefícios de injetarem em si o ácido hialurônico, alegando ser fácil, rápido e barato.

A “caneta” é vendida livremente em sites internacionais, como o Ebay, por um preço médio de US$ 44,00 — equivalente a quase R$ 230. Mas, isso depende do fornecedor, já que existem concorrentes com preços ainda mais baixos.

A tendência estética é preocupante e considerada alarmante por especialistas que dizem que a Geração Z (nascidos entre 1997 e 2010) é a mais influenciada pela opinião e indicação estética de pessoas que falam sobre saúde ou cirurgias sem terem formação na área.

Em 2022, nos EUA — país que mais realiza procedimentos estéticos no mundo; Brasil é o segundo colocado — foram quase 5 milhões de preenchimentos com ácido hialurônico, um aumento de 70% em relação aos dados de 2019.

Por lá, a aplicação de uma seringa de 1 ml pode custar US$ 680 — equivalente a quase R$ 3,5 mil. Por ser tão caro, o preenchimento caseiro ganha espaço entre jovens que não podem pagar um profissional, conforme a Sociedade Americana de Cirurgiões Plásticos.

No Brasil, a aplicação da mesma quantidade de ácido hialurônico custa em média R$ 1,5 mil — dependendo da qualidade, marca do fabricante e do profissional que irá aplicar.

“Posso entender alguém que veja um vídeo e faça por ter visto alguém fazer. Infelizmente, algumas pessoas tentam fazer em casa simplesmente porque outra pessoa disse”, analisa o cirurgião plástico Dr. Martin Newman, da Cleveland Clinic, na Flórida, EUA.

A caneta injetora é um dispositivo sem agulha que utiliza ar comprimido para empurrar o composto nas camadas da pele. O cirurgião alerta: “A primeira pergunta que você precisa fazer é: como pode isso empurrar um preenchedor dérmico, com aspecto de gel viscoso, dentro da pele?”.

Existem dispositivos que usam tecnologia de injetar medicamentos sem agulhas, mas isso não é suficiente para realizar um preenchimento dérmico como ácido hialurônico.

A maior preocupação do Dr. Newman é que a caneta injetora não consiga controlar a profundidade de penetração da substância: “Ao realizar um procedimento como este, você precisa ter um controle meticuloso sobre exatamente onde, o que e quanto está injetando”, ressalta.

Não há como garantir qualidade e procedência do suposto ácido hialurônico vendido nestas canetas. Diferentemente, as clínicas usam preenchedores de qualidade médica por ser necessário ter registro profissional para comprá-los de fornecedores certificados.

Segundo a Dra. July Ornelas, de Brasília, especialista e pós-graduada em estética pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), consultada pelo Jornal Ciência, existe uma tendência perigosa no aumento do uso dessas canetas.

Segundo a Dra. Ornelas, o ar comprimido tenta empurrar o suposto ácido hialurônico através da camada dérmica, mas é impossível saber em qual camada (profundidade) da pele o produto foi depositado.

“Nós não temos a veracidade sobre a qualidade do produto. Não sabemos se existe, de verdade, ácido hialurônico dentro da caneta ou outro gel viscoso. Também não sabemos se o gel é estéril ou contaminado”, salientou.

A Dra. Ornelas comentou ainda que procedimentos estéticos realizados de forma caseira são perigosos e não têm a segurança que existe em clínicas e faz um importante alerta.

“O preenchimento labial é um procedimento invasivo, injetável, sendo necessário ser realizado por profissional capacitado e habilitado. Procedimentos caseiros podem gerar obstrução vascular parcial ou total que, em último caso, podem levar à necrose. Dependendo de qual artéria for obstruída, pode necrosar lábios, nariz, tecidos adjacentes e gerar infecção generalizada”, ressaltou.

Os casos de preenchedores caseiros divulgados por influenciadores está se alastrando tão rápido que o FDA (Food and Drug Administration) — órgão dos EUA equivalente a ANVISA, emitiu alerta oficial sobre isso.

Segundo o FDA, as complicações de usar tais dispositivos incluem cegueira, acidente vascular cerebral, deterioração do tecido ou necrose, hemorragias, infecções, cicatrizes, nódulos, descoloração e pode levar à morte.

“O FDA não avaliou a segurança e eficácia de dispositivos sem agulha para injeção de qualquer preenchimento dérmico. O FDA também não aprova a comercialização de dispositivos sem agulha para injeção desses produtos”, diz nota oficial da agência reguladora.

Fonte(s): New York Post Imagem de Capa: Reprodução / Redes Sociais Foto(s): Reprodução / New York Post

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