É realmente necessário fazer um relaxamento muscular depois dos exercícios?

de Merelyn Cerqueira 0

O relaxamento muscular é praticamente uma “tradição” em treinamentos. Livros de fisiologia e até personal trainers insistem na prática. Trata-se de uma forma de arrefecimento dos músculos após intensas cargas de exercícios. Mas, será que ele realmente é necessário?

De acordo com Hirofumi Tanaka, fisiologista do exercício na Universidade do Texas, nos EUA, praticamente não há comprovação científica por trás do conselho. “É um tema pouco estudado”, disse. “Todos pensam que é um fato estabelecido, por isso ninguém o estuda”, disse em entrevista ao jornal The New York Times.

Segundo ele, não está claro como exatamente esse relaxamento deve ser feito. Alguns dizem que a pessoa deve apenas se manter em movimento por alguns segundos. Por exemplo, após terminar uma corrida, ao invés de parar abruptamente, andar por alguns minutos. Outros dizem que é necessário gastar cerca de 5 a 10 minutos fazendo o mesmo exercício, mas de forma mais lenta. Há ainda quem diga que o relaxamento deve incluir alongamento.  

Por outro lado, também não está claro sobre o que exatamente o relaxamento faz. Alguns dizem que alivia a dor muscular, enquanto outros sugerem que impede a rigidez dos músculos e alivia a pressão sobre o coração.

Pesquisadores do tema concordam no fato de que parar uma sessão intensa de exercícios abruptamente envolve riscos. Isso porque, quando você se movimenta, os vasos sanguíneos da perna são expandidos para enviar um maior fluxo de sangue para as pernas e pés, ao passo que o coração também bate mais rápido. Assim, ao parar de repente, o ritmo cardíaco diminui, e todo aquele fluxo sanguíneo é mantido nos membros inferiores, o que pode resultar em tonturas e até mesmo desmaios.

Recomendável para atletas profissionais

De acordo com o cardiologista e pesquisador, Dr. Paul Thompson, do Hartford Hospital, em Connecticut, EUA, os atletas mais experientes são os mais vulneráveis a isso.  Segundo ele, essas pessoas bem treinadas, já possuem ritmo cardíaco mais lento. Assim, conforme a parada brusca acontece, eles correm mais risco de desaceleração dos batimentos. “Além disso, existem grandes veias com enormes capacidades de armazenamento de sangue nas pernas”.

Tais efeitos também podem ser especialmente prejudiciais para pessoas com problemas cardíacos, segundo Carl Foster, um fisiologista do exercício na Universidade de Wisconsin-La Crosse, EUA. Como os vasos que conduzem o fluxo sanguíneo ao coração já estão dilatados, fica mais difícil para o sangue entrar. “É sempre uma preocupação, mas no meu conhecimento, não há uma riqueza de dados experimentais”.

E para os não experientes…

De acordo com Dr. Thompson, não faz muita diferença. “A maioria das pessoas não fica exatamente parada quando termina um treino longo. Elas caminham para o vestiário, para casa ou até o carro, recebendo o benefício do relaxamento involuntariamente”.

Ao que tudo indica, a ideia por trás do hábito parece ter se originado por meio de uma teoria popular, de que os músculos ficam doloridos após os exercícios porque acumulam ácido lático. No entanto, pesquisas já mostraram que o ácido lático é transformado em glicogênio, um combustível muscular, sendo parte normal dos movimentos e sem qualquer relação com dores. De qualquer forma, essa ideia levou à noção de que, reduzindo a intensidade do treino, você causa a dissipação do ácido.

Agora, no que diz respeito às dores, Dr. Tanaka diz que não há razoes fisiológicas para que o relaxamento muscular faça alguma coisa para aliviá-las. A mesma conclusão foi apresentada em um estudo feito por pesquisadores sul-africanos, que analisaram 52 adultos saudáveis que caminharam em declive e para trás em uma esteira por 30 minutos – um tipo de exercício que poderia causar lesões nos músculos das pernas. Depois, pediram que eles caminhassem lentamente na máquina por mais 10 minutos. De acordo com os cientistas, o relaxamento não fez nada para impedir os músculos de ficarem doloridos.

E quando à rigidez muscular?

“Se fosse em uma geração diferente, teria chamado isso de conto da carochinha”, disse Dr. Foster. “Agora eu acho que é mais um conto velho de fisiologistas. Não há dados que apoiem a ideia, mas as pessoas simplesmente não conseguem se livrar dela”. Dr. Tanaka, que pratica futebol nas horas vagas, também concorda. Segundo ele, não existe uma razão em particular para fazer algum tipo de relaxamento depois dos exercícios.

The New York Times ] [ Foto: Reprodução / The New York Times ]

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