Documentos vazados mostram “químicos perigosos” em aves, carnes, leite e até bolo de chocolate

A quantidade encontrada permitida é 250 vezes maior no bolo de chocolate, por exemplo, comparado com a água potável

de Otto Valverde 0

Há apenas alguns dias, o estado norte-americano de New Hampshire entrou com um processo contra a empresa DuPont, 3M e mais outras 6 empresas alegando contaminação por perfluoroalquílicas e polifluoroalquílicas.

Estas duas compõe um grupo de 5.000 substâncias químicas de origem sintética que são costumeiramente abreviadas como PFAS.

Embora esta classe de químicos tenha sido usada em milhares de produtos (antiaderentes, tapetes antimanchas, embalagens de comida em restaurante, caixas de pizzas, móveis de uso externo, etc.) as substâncias perfluoroalquílicas e polifluoroalquílicas pertencentes ao grupo, foram ligadas a inúmeros problemas de saúde como câncer, danos irreversíveis ao fígado e maior probabilidade de abordo em mulheres grávidas.

Em entrevista à agência de notícias Associated Press, Gordon McDonald, Procurador Geral de New Hampshire, disse:

“As ações que estamos tomando hoje visam assegurar que os responsáveis ​​pela contaminação dos PFAS no abastecimento de água potável de nosso estado e outros recursos naturais sejam responsabilizados. Como alegado nas ações judiciais, os réus possuíam conhecimento dos perigos dos produtos químicos PFAS, mas continuaram a fabricá-los ou vendê-los sem avisar o público sobre seus riscos à saúde”.

Outros estados norte-americanos já processaram algumas empresas. Em Nova York, por exemplo, um processo foi movido contra seis empresas que contaminaram a água potável da região e a água subterrânea de três estados ao produzir espumas de combate a incêndios.

O jornal inglês The Guardian salientou uma pertinente preocupação com a saúde das pessoas ao citar:


A onipresença dos PFAS significa que elas são encontradas em praticamente todo o sangue dos norte-americanos, bem como na água potável de cerca de 16 milhões de pessoas nos EUA”.


Como mostra a imagem, o PFAS pode ser encontrado em diversas setores da indústria.

A introdução acima do tema só deixa as revelações expostas pelo FDA (órgão norte-americano com o mesmo papel da ANVISA no Brasil) ainda mais perturbador.

Os documentos vazados mostram reuniões científicas feitas em Helsinque, na Finlândia, mostrando que os PFAS foram encontrados em carnes, produtos lácteos, verduras e até mesmo em bolo de chocolate de lojas em outubro de 2017 quando foi feita a coleta para análise.

A quantidade de PFAS nos bolos de chocolate, por exemplo, foi mais de 250 vezes o valor máximo permitido de PFAS em água potável. O leite também foi campeão de contaminação. E, existe um problema ainda maior. A eliminação do PFAS é extremamente lenta.

Se uma vaca consome esta classe de químicos por 30 dias, pode levar cerca de 1 ano e meio para ser eliminada da vaca e do leite, isso porque a meia-vida (tempo de disponibilidade e concentração máxima de um medicamento ou químico no sangue) dos PFOS é extremamente alta, cerca de 56 dias.  

Este é o grande fator que faz com que os PFAS seja uma enorme preocupação ambiental e de saúde.

O FDA, mediante o vazamento, declarou à AP através de nota: “Medir as concentrações de PFAS nos alimentos, estimar a exposição alimentar e determinar os efeitos de saúde associados é uma área emergente da ciência”.

Órgãos de defesa ambiental, como o Environmental Defense Fund, também declararam:

“[Nós] aplaudimos a FDA por iniciar a investigação e recomendamos que, dados esses resultados, reduza a contaminação por PFAS no suprimento de alimentos”.

Outros cientistas, como Linda Birnbaum, do National Institute of Environmental Health Sciences, vão além e se preocupam com questões ainda mais abrangentes:


Temos que olhar para a exposição humana total, não apenas o que está na água ou o que está na comida”, disse ela à AP. “Precisamos olhar para a soma total das exposições”.


Os consumidores esperam apenas ética por parte das grandes indústrias. A sensação é que estamos encurralados e comer, algo que é obrigatório para a nossa sobrevivência, torna-se porta das nossas próprias doenças e da nossa própria desgraça. Enquanto nada é feito, comer o que nos dá prazer parece se tornar cada dia mais assustador.

Até o momento, não existem dados oficias que mostrem a quantidade de contaminação de PFAS na água de abastecimento e em alimentos aqui no Brasil.

Fonte: Vice

Jornal Ciência