Cientista sugere que “teoria das raças” foi o maior erro da Ciência na História

de Merelyn Cerqueira 0

Em um artigo publicado pela The Conversation, o antropólogo, arqueólogo e biólogo evolucionista, Darren Curnoe, propôs que, embora devamos considerar que a Ciência é uma das invenções mais notáveis da humanidade, ela também falhou, e miseravelmente.

Ela realmente foi uma fonte de inspiração e levantou o véu da ignorância, sendo considerada um catalisador para mudanças sociais e crescimento econômico – e salvando também inúmeras vidas no processo. No entanto, a história nos mostra que algumas descobertas científicas fizeram muito mais mal do que bem, e há um erro, pouco considerado nas listas na internet, que pode ser classificado como um dos maiores da Ciência: quando os seres humanos foram classificados em diferentes raças.

Outras descobertas nocivas até lutam para se equiparar à esta, como a invenção das armas nucleares, combustíveis fósseis, CFCs (clorofluorocarbonos), frenologia, vitalismo, isso para citar apenas algumas. No entanto, a teoria da raça se destaca de todas, uma vez que tem causado uma miséria incalculável enquanto é usada como justificativa para atos bárbaros de colonialismo, escravidão e genocídio. Atualmente, ela é usada para explicar a desigualdade social pelo mundo, ao passo que continua a inspirar a ascensão de políticas de extrema-direita em diversos países.

As raças humanas foram sugeridas por antropólogos, como Johann Friedrich Blumenbach, durante o século 18, em uma tentativa de categorizar novos grupos de pessoas encontradas – e exploradas – como parte do crescente colonialismo europeu. Desde o princípio, a natureza arbitrária e subjetiva da categorização racial foi amplamente reconhecida, e na maioria das vezes, justificada por diferenças culturais ou linguísticas entre os grupos, e não por razões biológicas. Já durante o século 20, os antropólogos se ocuparam em escrever sobre as raças com uma explicação biológica, mas apenas para justificar diferenças psicológicas, como a inteligência e poder socioeconômico, por exemplo.

Uma crítica famosa da teoria racial, o antropólogo norte-americana Ashley Montagu, escreveu em 1941 que “a omelete chamada ‘raça’ não tem existência fora da frigideira de estatísticas, onde foi reduzida pelo calor da imaginação antropológica”. Considerando isso, será que os cientistas, os antropólogos em particular, ainda acreditam que essa divisão é válida?

Uma pesquisa realizada com mais de 3.000 antropólogos, membros da Associação Antropológica Americana, e publicada recentemente no American Journal of Physical Anthropology, ofereceu algumas informações valiosas sobre opiniões e crenças. Convidados a responder 53 declarações sobre raça, abrangendo tópicos relacionados a realidade, determinação biológica, papel da raça na Medicina e Genética e se o termo ainda deve ser utilizado.

Surpreendentemente, cerca de 86% dos entrevistados responderam discordando ou discordando fortemente da afirmação de que “a população humana poderia ser subdivida em raças biológicas”. Já para a afirmação “as categorias raciais são determinadas pela biologia”, 88% dos entrevistados discordaram ou discordaram fortemente. Já de “a maioria dos antropólogos acredita que os seres humanos podem ser subdivididos em raças biológicas”, 85% discordaram ou discordaram fortemente.

Logo, podemos ver que existe um consenso entre os especialistas, que acreditam que as raças não são reais e sequer refletem uma realidade biológica. Em suma, a maioria dos antropólogos não acredita que exista um lugar para as categorias raciais na Ciência. No entanto, o estudo também mostrou alguns dados preocupantes. Profissionais de grupos privilegiados (homens e mulheres brancas), eram os mais propensos a aceitar a raça como um fato válido, muito mais do que do grupo dos desprivilegiados.

Este primeiro grupo, com poder e influência no ramo, representa cerca de 75% dos entrevistados. São estas pessoas que determinam quais tipos de pesquisas são feitas, quem recebe financiamento, são as que treinam a próxima geração de antropólogos, a face pública do campo, bem como os especialistas cuja opinião é sempre procurada.

Contudo, assim como todo mundo, os antropólogos também estão longe de serem imunes às tendências inconscientes, como os efeitos de status social e cultura na formação de opiniões – como a questão da raça. Dessa forma, eles precisam, como em qualquer campo, trabalhar muito mais para desafiar suas próprias crenças, criadas e incorporadas de forma cultural. No entanto, Curnoe acredita que, apesar de necessário, isso não será feito de forma tão rápida.

[ IFL Science ] [ Foto: Reprodução / IFL Science ]

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