Finalmente sabemos o que é a estrutura estranha que existe dentro de nossos ouvidos

de Merelyn Cerqueira 0

Você provavelmente nunca ouviu falar em saco endolinfático, mas trata-se de uma estrutura presente no fundo de nosso ouvido com detalhes e funções poucos debatidos pela ciência.

Mas, isso até agora, já que um grupo de cientistas finalmente descobriu para que serve essa estranha formação, segundo informações da Science Alert.

Através de uma descoberta casual feita em peixes-zebra, os pesquisadores conheceram evidências que confirmam o papel da estrutura como um tipo de “válvula de segurança” para o ouvido.

Isso, basicamente, pode ser uma boa notícia para aqueles que têm uma condição conhecida como doença de Ménière, que afeta o equilíbrio.

A descoberta começou a ser feita há alguns anos, quando o biólogo Ian Swinburne, da Harvard Medical School, fez uma conexão entre uma bolha pulsante de células em um peixe-zebra em desenvolvimento e nosso ouvido.

Considere primeiramente que nosso ouvido interno é como um longo tubo em forma de caracol.

Em uma extremidade, ele se enrola em uma estrutura semelhante a uma concha, chamada cóclea, enquanto que na outra há três voltas perpendiculares, chamadas de labirinto ósseo. Enquanto a cóclea transfere as ondas que interpretamos como som, os labirintos auxiliam na direção.

Entre essas duas estruturas, onde um pequeno osso auditivo chamado de estribo se conecta, há ainda duas câmaras chamadas utrículo e sáculo. Estas, por sua vez, se ligam a um tubo curto e fino que termina no misterioso saco endolinfático.

Embora ninguém tem certeza sobre o que exatamente esse saco faz, existem algumas hipóteses. Por exemplo, é entendido que ele tem um papel principal na doença de Ménière, uma condição caracterizada por sintomas que incluem vertigem e zumbidos.

Presume-se que ela seja causada pelo excesso de fluido no ouvido e, desde que a cirurgia no saco foi mostrada para ajudar a aliviar sintomas, foi determinado que ele provavelmente tem algo a ver com a regulação de fluidos.

Embora essas evidências circunstanciais forneçam um bom começo para a solução do mistério, Swinburne e seus peixes-zebra ofereceram uma oportunidade melhor de comparar e contrastar a estranha estrutura.

Não é exatamente fácil observar o saco endolinfático em ação dentro de algo tão denso quanto uma cabeça humana. No entanto, no peixe-zebra, Swinburne pode usar corantes para observar e registrar o movimento do fluido. Ele viu que o corante fluía lentamente para dentro e depois rapidamente para fora da minúscula estrutura.

O problema, no entanto, é que não estava claro como exatamente esse fluido estava saindo, até que a equipe teve sorte.

Em um estudo separado feito com os peixes-zebra, eles encontraram um espécime mutante com uma variação em um certo regulador genético, o que provocou um saco endolinfático maior do que o normal.

A mutação pareceu provocar o enchimento excessivo da estrutura e falhar na deflação adequada, sugerindo uma diferença estrutural que poderia mostrar como normalmente funciona.

Utilizando micrografias eletrônicas de alta resolução, os pesquisadores descobriram que dentro do saco havia projeções sobrepostas, parecidas com abas, chamadas de lamelas, saindo das células.

De acordo com os pesquisadores, as células que revestem o saco endolinfático parecem ter espaços entre si que permitem a passagem de fluidos.

Essas lamelas ligam tais aberturas, mas, à medida que a pressão aumenta, se afastam até que, de repente, todo o saco pode vazar como se fosse uma peneira.

Os cientistas classificaram a descoberta como uma “estranha biologia celular”, embora as novas informações, que finalmente poderão completar os livros de anatomia, sejam muito úteis para as pessoas que sofrem para manter o equilíbrio de fluido nos ouvidos. Os resultados do estudo foram publicados na revista eLife.

Fonte: Science Alert Fotos: Reprodução / Science Alert

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