Diário revela últimos dias do missionário norte-americano morto por uma das tribos mais isoladas da Terra

de Merelyn Cerqueira 0

John Allen Chau, 27 anos, foi morto em outubro deste ano por membros de uma tribo isolada na remota ilha Sentinela do Norte, parte do arquipélago Andaman e Nicobar, no oceano Índico.

Segundo testemunhas, ele teria sido executado a flechadas no momento em que tentou adentrar a área da tribo que não aceita receber estrangeiros.

Apesar de seu corpo ainda não ter sido recuperado, o missionário deixou alguns textos em um diário revelando os momentos finais de sua vida.

De acordo com informações do The Washington Post, fornecidas pela mãe de Chau, ele escreveu sobre o sentimento de medo que se instalou antes de embarcar em sua última tentativa de contatar uma das tribos mais isoladas do mundo.

“Estou com medo”, dizia um dos escritos. “Assistindo o pôr-do-sol e é lindo – chorando um pouco… perguntando se esse será o último pôr-do-sol que verei”. 

Chau tentou repetidas vezes entrar por meio de travessias ilegais na ilha Sentinela do Norte, localizada na Baía de Bengala, entre a Índia e Mianmar.

Ele contou com a ajudar de pescadores locais em um esforço para espalhar o cristianismo entre a tribo. No entanto, em sua última visita, foi atacado com uma flechada que perfurou uma de suas bíblias.

 A tribo Sentinela costuma se defender com arco e flecha

“Senhor, esta ilha é a última fortaleza de Satanás onde ninguém ouviu ou sequer teve a chance de ouvir seu nome?“, escreveu Chau, sobre a tribo que possui algo entre 50 e 500 pessoas e cujos ancestrais habitaram a região nos últimos 55.000 a 60.000 anos.

Todas as informações sobre o local, bem como seus habitantes e costumes, são uma grande incógnita.

Estudos genéticos sugerem que os Sentinelas são provavelmente descendentes diretos das primeiras pessoas que se estabeleceram no Sudeste Asiático durante o início do período Paleolítico.

De acordo com o The Washington Post, os escritos de Chau sugerem que ele era um homem obcecado em levar o Cristianismo para a tribo – uma missão que sabia ser ilegal sob a lei indiana para a proteção dos Sentinelas, que provavelmente morreriam se expostos a doenças modernas.

Chau tentou visitar a ilha em quatro ocasiões, sempre contratando barcos de pesca noturnos para evitar a detecção. “O próprio Deus estava nos escondendo da Guarda Costeira e muitas patrulhas”, escreveu, acrescentando que tentou se envolver com as pessoas oferecendo presentes e cantando “canções de adoração”.

 Antes de retornar à ilha pela última vez, Chau supostamente deixou 13 páginas escritas em caneta e lápis com os pescadores que o trouxeram para a ilha, mesmo depois de expressar dúvidas sobre sua missão.

“Eu acho que poderia ser mais útil vivo. . . mas para você, Deus, eu dou toda a glória do que quer que aconteça”, escreveu ele, pedindo a Deus que perdoasse qualquer uma das pessoas da ilha que tentasse lhe matar, “especialmente se tiverem sucesso”.

Chau foi deixado pelos pescadores perto da ilha para que pudesse canoar o resto do caminho sozinho. Pouco depois, o missionário foi morto a flechadas pela tribo. Na manhã seguinte, os pescadores viram seu corpo sendo arrastado e enterrado na areia.

Autoridades da Índia e das ilhas Andaman e Nicobar estão avaliando sobre a possibilidade de recuperar o corpo de Chau, cuja família pede que a tribo não seja processada e, em vez disso, seja deixada em paz. Os pescadores que transportaram o missionário, por outro lado, foram presos.

Fonte: IFL Science / The Washington Post Fotos: Reprodução / IFL Science

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