Vikings tinham vermes intestinais que levaram à desordem hereditária associada à doença pulmonar de fumantes atuais

de Bruno Rizzato 0

Terríveis infestações de vermes intestinais em vikings fizeram com que eles desenvolvessem proteção contra a doença. Porém, isso deixou seus descendentes predispostos a desenvolver enfisema e outras doenças pulmonares.

Escavações arqueológicas realizadas em um antigo assentamento viking, na Dinamarca – e as análises das fezes encontradas – revelaram que, há 2.000 anos, as populações sofreram infestações maciças destes vermes. A equipe de pesquisadores descobriu de que maneira seus genes desenvolveram-se para proteger seus órgãos de vermes tornou-se a característica hereditária que agora pode levar a doenças de pulmão em fumantes.

A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e o enfisema pulmonar afetam mais de 300 milhões de pessoas, representando cerca de 5% da população mundial. O único fator de risco hereditário é a alfa-1-antitripsina (A1AT), e esse risco é agravado se os indivíduos fizerem uso do tabaco. Os pesquisadores acreditam que este fator evoluiu para proteger as pessoas das terríveis infestações de vermes. A1AT protege os pulmões e o fígado de enzimas chamadas proteases, que são produzidas por células do sistema imunológico, mas também por vermes parasitas.

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Foto: Reprodução / Daily Mail

Na ausência de A1AT as proteases podem quebrar o tecido pulmonar conduzindo à DPOC e ao enfisema. A deficiência de A1AT é geneticamente determinada e surpreendentemente comum, especialmente na Escandinávia, onde existem pessoas descendentes de vikings. A mutação surgiu há 2.000 anos, precisamente no sul da Escandinávia, segundo os pesquisadores da Liverpool School of Tropical Medicine que escreveram o relato na revista Scientific Reports.

Os fatores causadores de doenças de A1AT são comuns em populações humanas atuais, porém, continuam sendo um mistério. “Vikings consumiam alimentos contaminados e os parasitas teriam migrado para vários órgãos, incluindo pulmões e fígado, onde as proteases causam a doença”, relatou o professor Richard Pleass, principal autor do estudo.

Neste último trabalho, os autores mostram que estas formas desviantes de A1AT possuem relação com um anticorpo chamado imunoglobulina E (IgE), que evoluiu para proteger as pessoas dos vermes. A ligação de A1AT a IgE impede a discriminação da molécula das proteases, pelos anticorpos. “Por consequência, estas formas desviantes de A1AT, que já protegeram pessoas de parasitas, estão agora em liberdade para causar enfisema e DPOC”, relataram os pesquisadores.

A equipe, escrevendo detalhes na ScienceNordic, examinou ovos do parasita, de 1.000 anos de idade, recuperados a partir de fezes de vikings, o que indicava que eles e seus animais domésticos foram atormentados por parasitas. Os ovos foram encontrados em amostras de solo de um assentamento viking em Norseman, perto de Viborg, na Dinamarca, que datam entre 1018 e 1030.

Pesquisadores extraíram DNA dos ovos e, através de sequenciamento, foram capazes de decifrar a espécies dos vermes. Eles encontraram lombrigas e uma espécie chamada Trichuris trichiura, um nematódeo do gênero Trichuris que parasita o intestino grosso de humanos, causando tricuríase. Também foram encontrados vermes achados no fígado de gado ou ovelhas.

[ Daily Mail ] [ Foto: Reprodução / Daily Mail ]

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