Teorias da conspiração atuais poderiam ser reflexo da crença em OVNIs na época da Guerra Fria

de Bruno Rizzato 0

O debate sobre a existência de OVNIs não é novidade. Os rumores existem desde a década de 40 e, nos dias de hoje, poderiam oferecer informações valiosas sobre como as pessoas desconfiam dos cientistas.

Segundo o historiador Greg Eghigian, da Penn State University, nos EUA, a convicção sobre a participação de OVNIs durante a Guerra Fria traça paralelos fortes com a abordagem das pessoas dos movimentos de conspiração atuais, como a negação da mudança climática.

“Uma das coisas que marca a longa história deste movimento dos OVNIs é a questão de desconfiança e eu vejo isso como parte integrante de certas dúvidas que vemos hoje em dia. Embora existam algumas diferenças, o debate sobre OVNIs é uma espécie de avô de todas as conspirações atuais e poderia ser um modelo para analisar algumas dessas outras controvérsias”, disse Eghigian.

Em um novo estudo publicado na revista Public Understanding of Science, Eghigian examina como um sentimento de desconfiança mútua entre a comunidade científica e os pesquisadores amadores de OVNIs (conhecidos como ufólogos) acabou perpetuando e definindo o conflito entre os dois grupos. Mas só o fato de alguns teóricos da conspiração discordarem de descobertas científicas, não significa que eles sejam tendenciosos ou ignorantes. “Minha experiência com o fenômeno UFO e a história da ufologia é que tais investigadores amadores não são todos ignorantes ou críticos da Ciência. A questão é que essas pessoas não desconfiam da Ciência, e sim, dos cientistas e instituições científicas. É esta desconexão que precisa ser explicada”, relatou o pesquisador.

A evidência para este ponto de vista surgiu a partir da forma como ufólogos no século 20 agem, não rejeitando abordagens científicas definitivamente. “Os ufólogos não tentaram assumir campos ou instituições científicas. O que eles fizeram foi criar instituições paralelas e imitar o que os acadêmicos fazem, criando organizações, realizando conferências e fazendo pesquisas”, disse Eghigian. Porém, segundo ele, o excesso de confiança da comunidade de ufólogos em suas próprias pesquisas só alimentou a desconfiança acadêmica de seus resultados, piorando o relacionamento entre eles e os cientistas.

É esta relação que pode acabar definindo a pesquisa recente, dada a veemência de pensamento conspiratório contemporâneo. “O estudo realmente não se destina a pensar sobre a questão de se os OVNIs são, possivelmente, de origem extraterrestre. Eu acho que o ponto maior é como os cientistas, autoridades e ufólogos têm tentado entender um ao outro”, disse o pesquisador.

Quanto à existência de alienígenas em naves espaciais, a força do movimento da ufologia parece estar diminuindo no século 21, segundo Eghigian. Em uma amostra de 25 jornais, o historiador descobriu que o número de notícias que citam OVNIs ou discos voadores diminuiu gradativamente desde o fim da Guerra Fria, chegando a ser menos da metade do que era antes da década de 1990. Esta poderia ser uma das razões pelas quais o retorno da série Arquivo-X, com novos episódios, não fez tanto sucesso em sua estreia e nem chamou muito a atenção da crítica. “Eu acho que há evidências de que essa crença não é o mesmo fenômeno de outrora, pelo menos não como um movimento de massas de pessoas que ficam vidradas”, concluiu Eghigian.

[ Foto: Reprodução / CIA ]

Jornal Ciência