Síndrome de Anton-Babinski faz com que paciente cego continue acreditando que enxerga após AVC

de Bruno Rizzato 0

Um autor chamado David Eagleman, renomado neurocientista, escreveu um livro chamado “Incognito”.

Em um de seus capítulos, dentre tantos que tentam explicar detalhes da neurociência de forma leve e didática, ele faz referência à visão humana, citando a chamada síndrome de Anton-Babinski. Trata-se de um distúrbio pelo qual, após um derrame, o paciente pode ficar cego. O detalhe é que, mesmo sem poder enxergar, o acometido não acredita estar sem visão, negando sua cegueira.

Incognito_The-Secret-Lives-Of-The-Brain_DavidEaglemanSegundo Eagleman, não é fingimento, e sim, questões cerebrais. “Os que sofrem de síndrome de Anton não estão fingindo que não são cegos, eles verdadeiramente acreditam que não o são. Suas respostas verbais, embora inexatas, não são mentiras. Eles estão vivendo o que consideram ser a visão, mas tudo é gerado internamente”, relata o autor na página 61.

A negação faz com que a maioria dos pacientes evite procurar ajuda médica, e apenas com o tempo e as constantes dificuldades em lidar com a cegueira no dia-a-dia, perceba que algo está totalmente errado. Eagleman explica que isso acontece porque o cérebro continua processando informações visuais que o acometido acumulou ao longo da vida, após um acidente vascular cerebral. A falsa impressão de que a pessoa ainda enxerga, conforme citado anteriormente, leva certo tempo para ser perceptível.

O Journal of Medical Case Reports relata o caso de uma mulher de 83 anos ficou cega após um AVC e negou o fato, agindo normalmente, inclusive, apresentando sinais de demência branda. Apenas um mês depois do início do tratamento médico, ela percebeu que havia perdido a visão. Este caso deu um indício aos médicos de que a “cegueira imaginária” pode ser temporária.

Ele completa, em sua explanação: “Embora pareçam estranhas, as respostas da paciente podem ser compreendidas pelo seu modelo interno: as informações externas não estão chegando aos lugares certos devido ao derrame, e assim, a realidade da paciente simplesmente é aquela gerada pelo cérebro, com pouca ligação com o mundo real. Nesse sentido, o que ela vive não é diferente dos sonhos, das viagens por drogas ou das alucinações”.

Fonte: Mega Curioso Foto: Reprodução / Pixabay

Jornal Ciência