Seria o Big Bang “a mesma coisa” que um buraco negro e nunca percebemos todo este tempo?

de Merelyn Cerqueira 0

O Universo é cheio de coincidências. Como o tamanho da Lua e do Sol no céu, mesmo que estejam tão distantes um do outro. Como o enredo de “O despertar da Força” e os outros diversos filmes de Star Wars, o fato é que as coincidências estão por toda a parte. E aqui está mais uma estranha coincidência, e tem a ver com a natureza do próprio Universo.

Considere os buracos negros – que são regiões do espaço onde a matéria e a energia são esmagadas tão densamente que a velocidade de escape gravitacional excede a velocidade da luz. Nós não sabemos o quão grande esses buracos são, mas é bem provável que eles tenham “engolido” completamente uma região infinitamente densa, que é conhecida como singularidade.

Singularidade é o termo usado quando o assunto é a formação do Universo. A grande explosão do Big Bang, que aconteceu há 13,8 bilhões de anos atrás, fez com que tudo o que tinha no Universo fosse esmagado em uma região de densidade infinita e em seguida, em uma fracção de segundo, houvesse a expansão e o surgimento desse Universo que conhecemos.

Por pura coincidência, essa região descrita de densidade infinita é chamada pelos astrônomos como Singularidade do Big Bang. Sendo assim, seria essa singularidade a mesma que representa um buraco negro? E ainda, seria o Big Bang um grande buraco negro que carregou todo a massa do Universo para dentro dele?

De acordo com o Dr. Paul Matt Sutter, astrofísico da Universidade Estadual de Ohio e do Observatório Astronômico de Trieste, é importante ter em mente o que realmente é uma singularidade. “A singularidade é um lugar de densidade infinita e significa que a matemática que nós usamos para calcular esse tipo de coisa não é suficiente, sendo que isso é conhecido por acontecer em dois lugares: no centro de um buraco negro, onde o material é tão comprimido que não podemos mais usar a matemática para calculá-lo, e a outra é no caso da formação do Universo, quando ele foi completamente ‘mastigado’ em um volume tão pequeno para uma densidade tão gigante que também não podemos seguir em frente com a matemática. Sendo assim, essa é a única coisa que eles têm em comum, o fato de que não podemos mais usar a matemática, o que significa que há uma singularidade”. Disse ele em uma entrevista para o Phys.org.

No entanto, apesar de serem igualmente nomeados eles são muito diferentes. Isto é, uma singularidade em um buraco negro é um ponto no espaço-tempo, ou seja, um pedaço do Universo que está embutido em um Universo maior. Enquanto isso, a singularidade do Big Bang é o Universo inteiro, de acordo com Sutter. “É uma coisa diferente, em que todo o universo é compactado em densidades extremamente elevadas e que a nossa matemática não pode mais manter o controle”, disse ele.

Se considerarmos a densidade elevada do início do Universo e a relacionarmos com os buracos negros em geral – já que eram diferentes durante a época do Big Bang – por que será que o Universo não sem comportou como um buraco negro ao invés de expandir? Segundo Sutter, comparar os dois é uma coisa muito difícil, em ambos os casos é usada a lei da relatividade geral – que governa as leis desses sistemas. “Um buraco negro é uma solução particular de equações da relatividade geral de Einstein, e a solução decorre da dúvida: ‘Se eu pegar uma série de coisas e compactá-las em densidades extremamente altas, o que acontece?’. A resposta é que você começará uma singularidade cercada por um horizonte de eventos”. Sendo assim, existem dois cenários: ou o que está no Universo entra em colapso e se compacta, ou esse conteúdo irá se expandir. 

E se você está ciente da constante expansão do Universo – diferente dos buracos negros, que costumam ser fixos – e está preocupado com o fim do mundo, Sutter também responde isso. Para um cenário contrário ao Big Bang, o Big Crush, que caracterizaria o fim do Universo, precisaria existir uma desaceleração. Para que isso aconteça, os cientistas acreditam que essa expansão desaceleraria, pararia e em seguida seria revertida. Contudo, e no momento, não dá saber com certeza qual será do futuro do Universo, por enquanto a energia escura segue presente e ativa para que a expansão continue acelerando e fazendo com que ele fique maior a cada dia.

E para plantar uma nova semente de dúvida, Sutter teoriza sobre a ideia de estarmos vivendo em um buraco negro. “Se você considerar a massa e energia do Universo inteiro e transformá-lo em um buraco negro, teria quase a mesma densidade do próprio Universo e um horizonte de eventos bem maior do que todo o espaço observável. Sendo assim, será que por esse tempo todo estivemos vivendo dentro de um buraco negro? Poderíamos saber a diferença?”, finaliza.

[ Phys ] [ Foto: Reprodução / Internet ]

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