Será que a Maldição do Faraó é realmente verdadeira e afeta os intrusos?

de Merelyn Cerqueira 0

Encontrada em 1922 pelo explorador britânico Howard Carter, a tumba do faraó Tutancâmon, um dos mais conhecidos do Egito, é considerada uma das descobertas arqueológicas mais extraordinárias de todos os tempos.

Coroado quando tinha apenas nove anos de idade, Tutancâmon, filho do poderoso faraó Aquenáton (Amenhotep IV), governou o Egito por cerca de oito a nove anos, até que foi interrompido pela sua morte. O que resultou em uma magnífica tumba encontrada pelo explorador no início do século 20.

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Desde que foi descoberta, histórias começaram a circular sobre aqueles que ousaram violar o lugar de descanso final do “rei menino”, dizendo que quem o fizesse enfrentaria uma terrível maldição, conforme reportado pela Live Science. Trata-se de uma das mais famosas do mundo, conhecida como a “Maldição do Faraó” ou “Maldição do Rei Tut”. Logo, a história conta que muitas pessoas associadas a abertura da tumba acabaram morrendo em circunstâncias misteriosas, dando mais força à lenda.

A morte mais associada a maldição é a do aristocrata britânico George Edward Stanhope Molyneux Herbert, quinto Conde de Carnavon e egiptólogo amador que ajudou a financiar a pesquisa de Carter. Assim, em 1914 iniciaram-se as escavações, sendo interrompidas em 1918 devido a Primeira Guerra Mundial. Eventualmente, em 1923 a câmara mortuária de Tutancâmon foi aberta, desvendando inúmeros mistérios sobre sua vida e morte por parte de arqueólogos. Contudo, esse evento também deu início à suposta maldição.

Trabalhadores, entre eles uma criança, fazendo esforço para destruir a parede que separada a câmara mortuária da antecâmara.
Trabalhadores, entre eles uma criança, fazendo esforço para destruir a parede que separava a câmara mortuária da antecâmara. Essa foto foi colorida usando computador. 

Em 25 de março de 1923, um ano após a abertura da tumba, o Conde acabou morrendo de forma misteriosa. No entanto, ao que tudo indica, ele já estaria doente antes mesmo de chegar ao Cairo, em razão de alguma infecção causada por uma picada de mosquito. Outra vítima da maldição seria o milionário norte-americano, George Jay Gould I, que chegou a visitar a tumba e morreu logo depois em razão de uma pneumonia.

O mesmo ocorreu com Archibald Douglas Reid, um radiologista que teria realizado exames na múmia de Tutancâmon, bem como outro membro da equipe de Carter que morreu em razão de um envenenamento por arsênico. As ‘coincidências’ ocorreram em um total de oito pessoas das 58 pessoas envolvidas diretamente na abertura da câmara, em um espaço de 12 anos. Carter, no entanto, morreu 16 anos depois, vítima de um câncer. Atualmente, as teorias mais populares que explicam alguns dos casos envolvem a presença de fungos dentro das câmaras mortuárias (espécies Aspergillus niger, A. flavus e A. ochraceus), que podem ter atingindo as múmias e artefatos e causado a morte de pessoas com a imunidade já debilitada.

Objetos encontrados na antecâmera da tumba de Tutancâmon.
Objetos encontrados na antecâmera da tumba de Tutancâmon. Evidentemente, a imagem passou por um processo para colorir os objetos e dar mais realidade às fotos preto e branco. 

Mas então, o que teria dado origem a maldição? De acordo com o pesquisado James Randi, autor de o “Uma Enciclopédia das Reivindicações, Fraudes e Hoaxes do Oculto e Supernatural” (‘An Encyclopedia of Claims, Frauds, and Hoaxes of the Occult and Supernatural’), “quando o túmulo de Tut foi descoberto e aberto em 1922, foi um grande evento arqueológico. A fim de manter a imprensa na manga e ainda permitir-lhes um aspecto sensacional do fato, o chefe da equipe de escavação, Howard Carter, sugeriu uma história que uma maldição tinha sido colocada sobre alguém que violasse o descanso do faraó menino”, disse. “Carter não inventou a ideia de uma tumba amaldiçoada, mas ele a explorou para manter os intrusos longe de sua descoberta”.

Carter e um trabalhador analisando um segundo sarcófago na parte interna formada por ouro maciço.
Carter e um trabalhador analisando um segundo sarcófago na parte interna formada por ouro maciço.

Algo semelhante já foi usado por William Shakespeare em 1616. Em seu epitáfio ele escreveu: “Bendito seja o homem que poupa estas pedras, e amaldiçoado aquele que move os meus ossos”, na esperança de evitar que ladrões e anatomistas cobiçassem seu corpo enterrado.

Contudo, de acordo com Benjamin Radford, escritor da Skeptical Inquirer, em um artigo para a Live Science, “se é realmente irrelevante acreditar ou não nas maldições, o fato é que muita gente acreditou e quase um século depois, continuam acreditando”. 

Live Science ] [ Fotos: Reprodução / Kenneth Garrett – National Geographic / Rare Historical Photos / The Times / How It Works Daily ] 

Jornal Ciência