Qual a ciência por trás dos arrepios? É verdade que existe o “orgasmo de pele”?

de Merelyn Cerqueira 0

A experiência é chamada de “frisson”, um termo em francês possuindo vários significados possíveis, e que é sentido como uma onda de prazer por toda a extensão da pele.

Alguns pesquisadores até mesmo apelidaram o fenômeno como “orgasmo de pele”, conforme relatado pelo especialista Mitchell Colver, PhD pela Universidade de Utah State, nos Estados Unidos.

A música é o gatilho mais comum para despertar esse arrepio. No entanto, algumas pessoas passam pela mesma sensação ao olharem para obras de arte, assistirem a cenas emocionantes de algum filme ou terem contato físico com outra pessoa. Segundo Colver, estudos têm demonstrado que cerca de dois terços da população sentem frisson e, inclusive, usuários no Reddit chegaram a criar uma página para compartilhar experiências.

Embora esse fenômeno ainda esteja sendo estudado pela ciência, grande parte das pesquisas tem mostrado que esses estímulos inesperados podem ser um resquício de nossos antepassados. De acordo com os cientistas, os primeiros primatas se mantinham quentes através de uma camada endotérmica de calor encontrada abaixo dos pelos. Logo, ao experimentar os arrepios após uma mudança brusca de temperatura, temporariamente, através da concentração de pelos, acabaram redefinindo essa camada de calor.

No entanto, após uma série de pesquisas, muitas delas feitas a partir de suas próprias experiências, Colver descobriu que o fenômeno, na maioria das vezes, é provocado pelos próprios pensamentos, e não com estímulos externos. Contudo, ele explicou que esse frisson é uma reação fisiológica muito mais complicada do que os comuns arrepios.

Em testes, durante um episódio de frisson, foram observadas “alterações do fluxo sanguíneo cerebral em resposta à uma música selecionada por uma pessoa, que provocou uma experiência altamente prazerosa de arrepios pela espinha”. Esses relatos subjetivos de calafrios foram acompanhados por alterações do ritmo cardíaco, eletromiograma e respiração.

Conforme a intensidade desses calafrios aumentava, foram observados aumentos e diminuições do fluxo sanguíneo cerebral em regiões que estariam envolvidas na recompensa, motivação, emoção e excitação – incluindo striatum ventral, mesencéfalo, amígdala, córtex órbito-frontal, e ventral medial do córtex pré-frontal. Estas estruturas cerebrais são conhecidas por serem ativadas em resposta a outros estímulos de indução de euforia, tais como comida, sexo e drogas, o que legitima o termo “orgasmo de pele”, de acordo com Colver. Isso porque as estruturas neurofisiológicas e neurotransmissores que estão em jogo são quase idênticas as associadas ao prazer.

Para descobrir se o que sentimos é de fato um frisson ou simplesmente um arrepio, pesquisas anteriores, entre elas uma realizada pela australiana Nikki Rickard, da Universidade de Monash, a resposta galvânica da pele é uma forma eficaz de avaliar se o frisson está ocorrendo. Além disso, os traços da personalidade também foram associados ao aumento da experiência.

Contudo, segundo Colver, o objetivo desses estudos é simplesmente salientar a importância do uso de métodos adequados para controlar a influência tendenciosa que muitas das vezes pode ocorrer durante uma investigação social e os primeiros resultados foram publicados na revista Psychology of Music.

[ Foto: Reprodução / Everjean / Flickr ]

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