Proteína encontrada no leite materno poderia combater bactérias resistentes a medicamentos

de Bruno Rizzato 0

Cientistas transformaram uma proteína-chave encontrada no leite materno humano em um “vírus artificial” capaz de encontrar e matar bactérias, criando uma nova e poderosa arma na luta contra os exemplares resistentes aos medicamentos, segundo uma publicação da revista Chemical Science.

O vírus artificial é capaz de matar bactérias de forma quase instantânea, através de furos na membrana celular. Assim, as bactérias não conseguem construir defesas contra este ataque, podendo ser uma boa arma contra a resistência aos medicamentos. Mas o que é realmente animador é que o novo vírus também tem potencial de transportar terapia genética para as células humanas, mantendo as bactérias afastadas.

O leite materno é conhecido por ter diversas propriedades importantes, e além de ajudar no crescimento e desenvolvimento dos bebês, também desempenha um papel importante em mantê-los saudáveis ​​enquanto seu sistema imunológico ainda está em desenvolvimento. Ele faz isso com a ajuda de uma proteína-chave, conhecida como “lactoferrina”, que é capaz de destruir uma grande variedade de bactérias, fungos e vírus.

A maioria das propriedades antimicrobianas da lactoferrina existe graças a um pequeno fragmento de aminoácidos. Uma equipe de pesquisadores do National Physical Laboratory, no Reino Unido, e da Universidade College London, que percebeu seu efeito poderoso. Segundo a descoberta deles, estes fragmentos poderiam ser capazes de ficar agrupados para procurar patógenos. Logo em seguida, eles bombardeiam suas membranas para matá-los.

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A partir daí, os pesquisadores passaram a estudar a proteína com mais afinco, para saber se poderiam usar essa habilidade para criar um novo sistema de entrega de medicamentos. Para fazer isso, eles recriaram o fragmento de proteína em um pequeno bloco, criando cápsulas com uma espécie de vírus que caça bactérias para matá-las. “O resultado foi impressionante. As cápsulas atuaram como projéteis de bala que perfuravam as membranas com alta velocidade e eficiência”, disse Hasan Alkassem, um dos pesquisadores.

Além disso, os vírus artificiais fizeram tudo sem prejudicar as células humanas, eles apenas agiram como um vírus agiria. Isso significa que, além de matar as bactérias, eles também têm as propriedades de entrega regular de medicamentos. Depois de infectar as células, eles liberam genes, permitindo um “roubo” de sua estrutura celular.

Os cientistas estão substituindo os genes virais com drogas ativas ou terapia genética há anos, usando vírus para transportar medicamentos a células humanas. Mas, apesar do sistema funcionar bem, os vírus regulares não possuem a capacidade de diferenciar as células das bactérias, algo que este vírus artificial é capaz de fazer. Ele também mata bactérias específicas, podendo ser usado para tratar uma série de doenças.

“Com genes terapêuticos, esta capacidade pode ser utilizada para desordens que resultem no tratamento de um único gene mutante. Anemia falciforme, fibrose cística ou distrofia muscular de Duchenne são doenças celulares atualmente incuráveis, mas poderiam ser curadas através da correção dos genes mutantes correspondentes. As cápsulas, portanto, podem servir como meios de transportar as curas”, disseram os pesquisadores.

No entanto, os vírus artificiais derivados do leite materno vão precisar ser testadas em modelos animais para que os cientistas certifiquem-se de que eles são seguros e eficazes. Se os resultados saírem como o planejado, os vírus serão testados em seres humanos, posteriormente.

Fonte: Science Alert Foto: Reprodução / Wikipédia

Jornal Ciência