Projeto de empresa norte-americana para ressuscitar pessoas é retomado

de Merelyn Cerqueira 0

No ano passado, a Bioquark Inc., uma empresa de biotecnologia sediada em Filadélfia (EUA), recebeu aval de um Conselho de Revisão de Instituto Nacional de Saúde do país (e também da Índia) para dar início a um ensaio clínico controverso.

O objetivo era trazer de volta à vida 20 pacientes considerados clinicamente mortos. No entanto, todo o projeto foi desligado e agora, espera-se que ele seja retomado até o final deste ano. Com informações da Futurism.

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A proposta

Primeiramente, os 20 pacientes serão submetidos a injeções de células-tronco, que serão isoladas no sangue ou gordura.

Em seguida, uma mistura de proteínas será injetada diretamente na medula espinhal, a fim de promover o crescimento de novos neurônios. Depois, uma terapia a laser e estimulação nervosa serão acompanhadas por 15 dias, com o objetivo de fazer com que esses neurônios façam conexões.

Enquanto isso, os pesquisadores monitorarão o comportamento e eletroencefalograma (EEG) para identificar quaisquer sinais de alterações causadas pelo tratamento.

Controvérsias

Embora haja embasamento científico para cada etapa do processo, todo o projeto está sob grande escrutínio. A estimulação elétrica do nervo mediano de fato já havia sido testada antes, mas a maioria das evidências se concentra apenas em estudos de caso.

Alguns cientistas descreveram dezenas destes casos, indicando que a técnica poderia ter algum sucesso limitado em pacientes comatosos.

No entanto, há uma grande diferença entre coma e morte cerebral. E a proposta da Bioquark levanta algumas questões sobre isso, por exemplo, como os pacientes do ensaio podem consentir com o tratamento?

Como fica a questão da documentação dado o fato de que eles estão legalmente mortos? Como a morte cerebral pode ser confirmada de forma definitiva?

Ainda: o que aconteceria se alguma atividade cerebral de fato retornasse, e qual seria o estado mental desse paciente?

Conforme reportado pela Stat News, em 2016, a neurologista Ariane Lewis, e o bioeticista, Arthur Caplan, consideraram que o experimento era “duvidoso”, “não tem qualquer fundamento científico”, é “eticamente questionável” e, na pior das hipóteses “de absoluta natureza antiética”.

O fisiologista molecular, Ed Cooper, também duvida que o método da Bioquark seja bom, e acredita que “não há como essa técnica possa funcionar com alguém em morte cerebral”.

A técnica, segundo ele, confia na existência de um tronco cerebral funcional – uma das estruturas que a maioria dos neurônios motores atravessa antes de se conectar ao córtex. Logo, “se não há tronco cerebral funcional, então isso não pode funcionar”.

O cirurgião pediátrico Charles Cox, que também não está envolvido no projeto da Bioquark, concorda com Cooper. Segundo ele, a proposta é a coisa mais absurda que já ouviu na vida.

“Acho que a probabilidade de que esse trabalho funcione está próxima do zero”, disse. “Penso que [alguém retornando à vida] tecnicamente seria um milagre”.

Já a Bioquark permanece otimista sobre o projeto. “Eu dou a nós uma boa chance. Acho que é apenas uma questão de juntar tudo e obter as pessoas e mentes certas para isso”.

Fonte: Science Alert Fotos: Reprodução / Science Alert

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