Por que é impossível fazermos cocegas em nós mesmos?

de Merelyn Cerqueira 0

A maioria das pessoas concordam que é praticamente impossível fazer cócegas em si mesmas. Isso porque, quando tentamos, nosso sistema motor cria uma cópia eferente, o que lhe permite prever as consequências de um movimento.

Logo, a resposta reside na forma como esses movimentos são vistos e percebidos, segundo o especialista de ciências cognitivas Marc Buehner, da Universidade de Cardiff, no Reino Unido, escreveu à The Conversation. Para ele, as pessoas capazes de fazerem cócegas em si mesmas, são aquelas que sofrem de esquizofrenia.

Alguns de nós somos mais susceptíveis às cocegas do que outros, mas quase todos somos incapazes de fazê-las em nós mesmos. Para entender melhor isso, precisamos primeiramente entender um outro fenômeno.

“Feche um olho e empurre com cuidado contra a lateral de seu outro olho (aberto), movendo o globo ocular de lado a lado em seu soquete. O que você vê é semelhante a ideia de que o mundo está se movendo, mesmo que você saiba que não é isso que acontece”, disse ele. “Agora coloque sua mão para baixo e analise o ambiente. Seu olho se move da mesma forma como quando você o empurrou, mas o mundo, dessa vez, permanece estável”.

Segundo ele, é evidente que a informação visual reunida pelo olho é a mesma em ambos os casos. Como as imagens derivam da retina, o olho se move ao redor. Mas a sua percepção de que elas estavam se movendo era falsa quando o dedo auxiliou o movimento.

Isto acontece porque, quando você move seus olhos naturalmente, o cérebro envia comandos motores para os músculos do olho e, ao mesmo tempo, uma ‘cópia eferente’ desses comandos é enviada para o sistema visual, para que ele possa prever as consequências sensoriais do movimento. Logo, isso permite que o sistema visual compense as alterações em sua retina devido ao movimento do globo ocular, assim o seu cérebro sabe que as mudanças na imagem são de fato o próprio movimento do olho.

A mesma coisa acontece com as cócegas. O sistema motor também cria uma cópia eferente que permite prever as consequências sensoriais do movimento. Diferente disso, quando são provocadas por outras pessoas, a experiência resultante é mais intensa.

Contudo, de acordo com Buehner, apenas as pessoas com esquizofrenia e delírios de controle, são capazes de auto estimular as cócegas. Isso acontece devido a uma falha no mecanismo que compara a cópia eferente às consequências sensoriais da ação. Portanto, se o indivíduo sofre de delírios de controle e levanta o braço sobre a cabeça, por exemplo, a experiência subjetiva que ele tem pode ser semelhante ao mesmo movimento provocado por uma pessoa alheia.

Em suma, por mais que queiramos fazer cócegas em nós mesmos, nosso cérebro se adaptou para otimizar a forma de interagir e compreender o mundo ao redor. Logo, ser capaz de distinguir se uma experiência é resultado de nossa própria ação ou de força externa, é extremamente importante.

[ Fonte: Daily Mail ]

[ Foto: Reprodução / Wikipédia ]

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