Por que boa parte das tarântulas possui a cor azul?

de Bruno Rizzato 0

Uma observação mais atenta às tarântulas é o suficiente para notar que a maioria delas é azul. Nesta semana, um novo estudo publicado na revista Science Advances explica que sua cor padronizada é impulsionada pela seleção natural.

A diversidade de cores observada em animais – das penas de um pavão até as asas de uma borboleta – é produzida pela absorção de certos comprimentos de onda de luz por pigmentos ou pela dispersão de luz, a partir de nanoestruturas das partes coloridas (ou da combinação de ambas). Embora a seleção sexual tipicamente aumente a diversidade de cores, a seleção natural normalmente reduz. Espécies que dependem de esconderijos, por exemplo, muitas vezes têm cores semelhantes às dos ambientes em que ficam escondidas.

Porém, nem sempre este padrão é correto. Cores podem executar funções práticas, como a regulação do calor, e, às vezes, a iridescência é algo que ocorre por consequência, não por questões adaptativas. A distinção entre os efeitos da seleção sexual e a seleção natural em cores pode ser um desafio. É por isso que os animais com capacidades visuais limitadas oferecem uma oportunidade única para investigar como a cor evolui por meio da seleção natural, ou seja, sem a influência da seleção sexual.

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A maioria das tarântulas são predadoras de emboscada noturnas, que contam com cautela – não velocidade – para capturar sua presa. Elas normalmente vivem em tocas subterrâneas em florestas tropicais, e usam seus sentidos para andar. Mesmo com oito olhos, como a maioria das aranhas, elas têm má visão. No entanto, muitas possuem coloração azul-cobalto brilhante, produzida por nanoestruturas em seus pelos, ligadas ao exoesqueleto, que refletem a luz azul.

Uma equipe liderada por Bo-Kai ‘Bill’ Hsiung, da Universidade de Akron, nos EUA, analisou as cores de tarântulas de 53 gêneros, usando imagens digitais obtidas por meio de pesquisas no Google e no Flickr. Quarenta destes gêneros tinham coloração azul. A equipe, então, analisou amostras de oito espécies (compradas de vendedores particulares) usando microscopia eletrônica e uma técnica chamada “espectroscopia de reflectância”. Eles descobriram que a cor azul evoluiu, pelo menos, oito vezes de forma independente em tarântulas através de três mecanismos diferentes. A coloração azul em tarântulas, mesmo entre espécies mais distantes, variou entre 20 e 450 nanômetros.

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Ao contrário de muitos outros animais vistosos, essas aranhas não dependem da coloração para reprodução, e sim, de sinais vibratórios e químicos. O azul mostra-se frequente mesmo em aranhas sexualmente imaturas, e alguns adultos perdem sua cor azulada quando envelhecem. Além disso, as aranhas não podem sequer ver comprimentos de onda de luz azul tão bem. Juntos, estes resultados sugerem que a cor azul não poderia ter sido selecionada sexualmente.

[ IFLS ] [ Fotos: Reprodução / IFLS / Youtube / Wikipédia ]

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