Peixes e frutos do mar poderiam retardar a evolução da demência em grupo de risco

de Bruno Rizzato 0

Comer frutos do mar apenas uma vez por semana pode retardar o avanço da doença de Alzheimer em pacientes do grupo de risco, segundo dados de uma nova pesquisa.

Os cientistas sempre suspeitaram dos benefícios de peixes e outros frutos do mar para o cérebro, mas agora eles descobriram que tais alimentos também podem atrasar a progressão da demência grave.

Especialistas do Centro Médico da Universidade Rush, em Chicago, EUA, examinaram os cérebros de 286 pessoas que tinham morrido recentemente com a doença de Alzheimer. Eles descobriram que aqueles que comiam cerca de uma a três refeições contendo frutos do mar semanalmente, e também carregavam um determinado gene para o Alzheimer, tiveram menos danos relatados.

A equipe, cujo trabalho foi publicado na revista médica JAMA, suspeita que o ômega-3 presente nos frutos do mar pode ser o responsável. Mas eles também descobriram que as pessoas que consumiam suplementos de óleo de peixe, ao invés dos frutos do mar em si, não se beneficiaram da mesma proteção. Os que apresentaram o menor dano tinham um gene chamado APOE ε4, encontrado em 36% dos pacientes de Alzheimer.

Antigamente pensava-se que frutos do mar poderiam ser ruins para quem possuía demência, porque o alimento é uma fonte de mercúrio, neurotoxina que poderia danificar o cérebro. Porém, o novo estudo descobriu que aqueles que tinham comido frutos do mar fez regularmente, com altos níveis de mercúrio no cérebro, não tinham sinais do dano esperado. A toxicidade do mercúrio pode ter sido reduzida pelo selênio, um nutriente presente em frutos do mar.

“Este é o primeiro estudo a mostrar a relação entre as concentrações de mercúrio do cérebro e a neuropatologia ou dieta. A constatação de que não existam correlações do mercúrio sobre o cérebro é apoiada por uma série de estudos que não encontrou diferença alguma entre pacientes com a doença de Alzheimer e concentrações de mercúrio, no cérebro ou no sangue”, disseram os pesquisadores em um artigo.

A Drª Laura Phipps, da instituição Alzheimer’s Research UK, disse: “Os ácidos graxos ômega-3 encontrados nos peixes são uma parte importante de uma dieta equilibrada, e estudos anteriores sugerem que eles possam desempenhar um papel importante em manter o cérebro saudável. Este estudo vincula o consumo moderado de frutos do mar com níveis mais baixos de alterações cerebrais relacionadas ao Alzheimer, em idosos que carregam um gene de risco para a doença. Porém, é preciso ter cuidado ao tirar conclusões sobre a população em geral. A pesquisa atual está em andamento para investigar os benefícios de uma dieta rica em ômega-3 em pessoas com risco de problemas de memória e cognição, mas, neste momento, não há nenhuma evidência para sugerir que suplementos de óleo de peixe possam prevenir demência, em geral”.

De acordo com a especialista, o risco de demência tem a ver com idade, genética e fatores de estilo de vida. “A melhor evidência atual sugere que o que é bom para o seu coração é bom para sua cabeça e que muito exercício, uma dieta saudável, não fumar e manter a pressão arterial e colesterol sob controle, podem ajudar a reduzir o risco de demência”, acrescentou.

“Comer frutos do mar muitas vezes na semana tem sido associado com a melhoria da memória e da saúde, mas as pesquisas que respondem se os peixes podem prevenir ou retardar a demência, produziram resultados conflitantes. A presença de mercúrio no cérebro, que tem sido associada ao consumo de frutos do mar, não foi associada aos sinais da doença de Alzheimer, e isso é uma notícia animadora para os amantes de peixe. No entanto, dado o tamanho relativamente pequeno deste estudo, estes resultados não são totalmente conclusivos. Estamos ansiosos para ver mais resultados nesta área de pesquisa”, concluiu o Dr. James Pickett, diretor de pesquisa da Sociedade do Alzheimer na Inglaterra.

[ Daily Mail ] [ Foto: Reprodução / Pixabay ]

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