Paracetamol durante a gravidez poderia prejudicar a fertilidade da sua filha, sugere estudo

de Rafael Fernandes 0

As mulheres grávidas que tomam analgésicos comuns, como o paracetamol, poderiam inadvertidamente, colocar a fertilidade de suas filhas em risco, sugere um estudo.

Paracetamol é o analgésico mais utilizado no mundo e é considerado o único analgésico seguro para as futuras mães. Mas, segundo testes realizados, quando uma mãe tomou paracetamol ou indometacina (droga semelhante à aspirina), sua prole do sexo feminino teve menos óvulos do que aquelas não expostas aos medicamentos.

Pesquisas anteriores, feitas pelos mesmos cientistas escoceses, relataram que o paracetamol teve efeitos também em meninos, aumentando vários riscos, desde infertilidade até câncer.

Eles dizem que as grávidas se tornaram indiferentes aos perigos do paracetamol. Se os comprimidos precisarem ser tomados, devem ter a dosagem mais baixa possível e seu consumo não pode durar muito tempo, acrescentam.

A nova pesquisa, realizada em ratos, demonstrou que fêmeas que tomaram paracetamol tiveram filhotes com ovários menores e menos filhotes. Os machos foram afetados também, tendo menos células produtoras de espermatozoides ao longo da vida. Entretanto, sua fertilidade retornou aos níveis normais no momento em que atingiram a maturidade, o que não ocorreu com as fêmeas.

Apesar do fato de que o desenvolvimento fetal ser mais lento em humanos do que em ratos, os cientistas dizem que os resultados são significativos dada a semelhança dos sistemas reprodutivos das espécies. O paracetamol é amplamente utilizado para tratar dores de cabeça, enquanto que a indometacina reduz a febre, a inflamação e a dor da artrite.

O estudioso e coautor Professor Richard Sharpe, da University of Edinburgh’s MRC Centre for Reproductive Health, disse: “É importante lembrar que esta pesquisa foi realizada em ratos, não humanos. Todavia, existe muita similaridade entre os dois sistemas reprodutivos. Agora precisamos compreender como essas drogas afetam o desenvolvimento reprodutivo de um bebê no útero, para que possamos entender melhor seu efeito.”

Os ratos receberam as drogas ao longo de vários dias e os efeitos apareceram após um período de um a quatro dias. Além de afetar a prole imediata de uma mãe, os medicamentos também parecem ter um impacto sobre as gerações seguintes. Netas dos animais que receberam os analgésicos durante a gravidez também tinham ovários menores e função reprodutiva alterada.

Alguns analgésicos podem afetar o desenvolvimento de células germinativas – as que amadurecem em óvulos e espermatozoides – dentro do útero, de acordo com o estudo publicado na revista Scientific Reports. A razão pode ser que as drogas atuem sobre os hormônios chamados prostaglandinas, que são conhecidos por seu papel na ovulação, no ciclo menstrual e na indução do trabalho de parto.

O Royal College of Midwives disse que as futuras mães devem procurar aconselhamento médico antes de tomar paracetamol. Vários estudos têm sugerido uma interferência no desenvolvimento do sistema reprodutor masculino, enquanto o bebê ainda está no útero.

Isto é importante porque se algo der errado, haverá efeitos ao longo da vida. Colocando a criança em maior risco para uma série de problemas, como defeitos genitais congênitos, infertilidade e câncer de próstata.

A testosterona, que é feita nos testículos, é usada em todo o processo. Os investigadores realizaram uma experiência destinada a demonstrar se a exposição ao paracetamol no útero reduz os níveis do hormônio.

Experimentos em bebês ainda no útero seriam impossíveis, por isso os pesquisadores usam ratos com tecido testicular fetal humano enxertado. Os animais receberam paracetamol em doses equivalentes àquelas tomadas por seres-humanos e a quantidade de testosterona produzida foi medida.

Tomar paracetamol por apenas um dia não teve efeito sobre os níveis de testosterona. Entretanto, a ministração de três vezes por dia durante sete dias causou uma redução de quase metade do hormônio, relatou a revista Science Translational Medicine.

Um segundo teste confirmou que os níveis do hormônio sexual masculino despencaram. Os investigadores recomendam às mulheres grávidas, seguirem a orientação existente NHS, que seria tomar paracetamol apenas na dose mínima e pelo menor tempo possível.

Coautor do estudo mais recente, Professor Richard Anderson, disse: “Estes estudos envolveram o uso de analgésicos durante um período relativamente longo. Precisamos, agora, explorar se uma dose menor teria um efeito similar e como esta informação pode ser útil, quando ‘traduzida’ para uso humano.”

O trabalho foi financiado pelo Medical Research Council and the Wellcome Trust.

Foto: Daily Mail Foto: Reprodução / Pixabay

Jornal Ciência