O que está causando o misterioso “zumbido mundial” que intriga milhares de pessoas?

de Merelyn Cerqueira 0

Na primavera de 2012, enquanto vivia próximo a uma vila costeira em Sechelt, na Colúmbia Britânica, Canadá, o professor Glen MacPherson, da Universidade da Colúmbia Britânica, começou a ouvir um zumbido que a princípio associou à aviões. Segundo ele, o barulho, normalmente, começava durante a noite, entre 22 e 23 horas e rapidamente parava.

Eu era a única pessoa da minha casa que conseguia ouvi-lo. Naturalmente assumi que estava vindo de dentro de casa, e então procurei, em vão, pela fonte. Chegue até mesmo a desligar a energia geral, mas o som ficou mais alto”, escreveu ele em um artigo para a The Conversation.

O som, segundo MacPherson, não podia ser ouvido ao ar livre, mas ele conseguia quando estava dentro de seu carro, durante a noite, com as janelas fechadas e ignição desligada. “Eu era confiável para excluir algumas fontes óbvias, como atividade industrial, tráfego marítimo, estações elétricas e ruídos da estrada”, reportou.

O professor Glen MacPherson.
O professor Glen MacPherson.

Assim, resolveu fazer uma busca na internet. Ao pesquisar por ‘ruído incomum de baixa frequência’, descobriu que outras pessoas haviam buscado pela mesma informação. “Eu fazia parte de uma pequena fração de pessoas capazes de ouvir o que era chamado de “zumbido mundial” (‘worldwide hum’, ou simplesmente ‘hum’)”. Logo, ele viu que as dúvidas eram as mesmas: o que está causando esse som e como ele pode ser parado?

A descrição clássica do zumbido, segundo ele, era que soava como um motor de caminhão em marcha lenta. Para outros, era um distante, porém estrondoso zumbido. Pode iniciar e parar ou aumentar e diminuir de repente. Eventualmente, ele acabou se deparando com algumas pesquisas mais sérias sobre o tema, e mencionou um escrito em 2004, por um geocientista chamado David Deming, que também era capaz de ouvir o barulho. Nele, Deming descrevia a história do zumbido, documentado pela primeira vez na década de 1960, em Bristol, Inglaterra. Uma outra ocorrência, no final de 1980, em Taos, Novo México, EUA, também foi registrada.

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Contudo, devido a infinidade de pseudociências e teorias conspiratórias, qualquer trabalho sério realizado nessa área poderia ser abafado. “Eu encontrei cientistas argumentando que o zumbido poderia ser causado por construções de túneis sob a terra, segmentação eletrônica, alienígenas e até mesmo acasalamento de peixes”, escreveu MacPherson.

Assim, em 2012, dada a necessidade de investigação, ele começou um projeto de mapeamento do zumbido. Neste banco de dados ele reuniu documentos, mapas e informações detalhadas de ouvintes anônimos. Além disso, em um fórum estritamente moderado, ele fornece dados brutos para investigação e comentários de pessoas que tiveram suas vidas afetadas negativamente pelo ruído.

O presente projeto, segundo ele, “visa validar e normalizar o fenômeno”. A mais recente atualização do mapa, feita em 6 de junho de 2016, apresenta cerca de 10.000 pontos e dados, além de notáveis descobertas. “Encontramos uma média de idade entre os ouvintes, que é de 40,5 anos, sendo que 55% deles são homens”, reportou. Curiosamente, ele afeta oito vezes mais pessoas ambidestras. Além disso, em sua opinião, existem quatro hipóteses para a origem do ‘hum’.

A primeira: a mesma argumentada por Deming, que tratava de frequências baixas de rádio (VLF). A segunda, trata-se de um grande acumulo de som de baixa-frequência e ondas infrassônicas. A terceira, é que o zumbido é um fenômeno terrestre ou geológico. E por fim, em quarto, trata-se de um fenômeno gerado internamente, enraizado apenas nos ouvintes com predisposições genéticas. “É claro que existe a possibilidade remota de que uma explicação mais exótica poderá revelar-se como correta. Mas, como em toda a ciência, ao que parece, melhor começar com o que sabemos como plausível, em oposição ao que não sabemos”, escreveu.

[ Fonte: Live Science ]

[ Fotos: Reprodução / MIC / Mega ]

Jornal Ciência