Novo estudo sugere que estamos totalmente errados sobre o colesterol “bom”

de Merelyn Cerqueira 0

Durante décadas fomos informados que o correto é evitar ao máximo alimentos ricos em colesterol LDL (considerado ruim), como manteiga, bacon, banha de porco, etc; e investir em comidas que aumentam o colesterol HDL (bom), como nozes, peixes, óleo de oliva e abacate. Contudo, ao que tudo indica, a verdade é muito mais complicada do que isso, conforme relatado pelo Gizmodo.

Um estudo realizado pela Universidade de Cambridge, na Inglaterra, e publicado pela revista Science, mostrou que, para um determinado segmento da população, o “bom colesterol” na verdade, aumenta os riscos de doenças cardíacas coronárias. Esta descoberta, no entanto, pode ser adicionada à uma pilha crescente de evidências científicas que mostram que o nexo de causalidade entre as doenças cardíacas e colesteróis são fracos e que há outros fatores mais importantes a serem considerados.

Esse achado poderia fazer com que médicos mudassem de ideia quando o assunto fosse a prescrição de medicamentos de angariação de HDL no tratamento de doenças cardíacas. Isso porque, segundo repetidos ensaios clínicos, esses medicamentos não funcionam como deveriam.

Para o estudo, foram analisados quase 1000 indivíduos que possuíam uma mutação em um gene chamado SCARB1. Esta falha genética afeta cerca de uma a cada 1700 pessoas e é capaz de aumentar os níveis de HDL no organismo. Logo, em teoria, elas deveriam ser quase que “imunes” a doenças cardíacas. Mas, de acordo com a pesquisa, o que aconteceu foi exatamente o contrário. Os riscos aumentaram em 80%, semelhante aos associados à fumantes.

Descobrimos que as pessoas que transportam essa mutação genética rara estão, de forma inesperada, em maior risco de doenças cardíacas”, disse o pesquisador-chefe Adam Butterworth à BBC. Ele ainda disse que esta descoberta “desafia a nossa sabedoria convencional de que o ‘bom’ colesterol realmente protege as pessoas de doenças do coração”.

Estima-se que as doenças cardíacas sejam responsáveis pela morte de cerca de 600 mil pessoas nos Estados Unidos a cada ano. Geralmente, são causadas pelo acúmulo de material gorduroso nas paredes das artérias das coronárias. Assim, o fluxo de sangue para o coração é restringido, aumentando o risco de ataques cardíacos.

A descoberta, segundo Butterworth, sugere que a forma com que o HDL é tratado no corpo é mais importante do que a determinação dos riscos baseados em seus níveis no sangue. Logo, a nova descoberta poderia levar ao desenvolvimento de novas drogas que melhorariam o processamento desse tipo de colesterol, prevenindo ataques do coração.

Segundo o cardiologista Tim Chico, da Universidade de Sheffield, na Inglaterra, essa pesquisa não vem como uma surpresa. Para ele, é importante ressaltar que isso não altera nenhuma das recomendações feitas por médicos para pacientes que precisam receber tratamentos com estatinas ou outras drogas. Assim, enquanto eles ainda questionam a prática de elevar os níveis de HDL como métodos de prevenção de ataques cardíacos, a ideia da existência de um colesterol “bom”, parece estar destinada a ser excluída da Medicina.   

[ Gizmodo / Science ] [ Foto: Reprodução / Alpha / Flickr / CC BY-2.0 ]

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