Nova técnica promete facilitar o uso de venenos na descoberta de terapias

de Merelyn Cerqueira 0

Geralmente, associamos todos os tipos de venenos com morte, ou pelo menos, dores excruciantes.

Eles podem ser produzidos por uma vasta gama de animais ou plantas na natureza. De acordo com IFL Science, estima-se que cerca de 57 mil mortes humanas ocorram por ano em decorrência a diversos tipos de venenos. No entanto, há um crescente número de evidências que sugere que eles possam ser aproveitados pela medicina como forma de cura.

Dessa forma, pesquisadores do Scripps Research Institute, nos EUA, desenvolveram uma nova técnica que poderia reduzir e muito o tempo que, atualmente, se leva para testar um veneno em algum alvo específico, além de ser capaz de ajudar a explorar suas possibilidades medicinais. “Até agora, não tínhamos uma maneira de aproveitar de forma relevante o vasto potencial terapêutico dos venenos”, explicou Richard A. Lerner, o principal investigador do estudo publicado na revista Angewandte Chemie.

As principais razões para que os venenos não tenham sido usados de forma relevante na medicina até agora, é a lentidão e a dificuldade de isolar e analisar as toxinas no corpo. Atualmente, aqueles que querem fazê-lo precisa ter em suas mãos grandes quantidades de veneno, que precisam ser purificados até que, finalmente, estejam prontos para os testes de laboratório. No entanto, esse processo é demorado e muitas das vezes proibitivamente caro.

Ao invés disso, os pesquisadores se voltaram para uma base de dados de venenos previamente compilados. Assim, eles procuram por toxinas que apresentem sequências de proteínas que são de seus interesses e talham uma lista de cerca de 589 possibilidades. A partir daí, sintetizam artificialmente os genes que codificam o veneno e em seguida os inserem em um vírus, antes de infectar uma célula com ele. As sequências de proteínas de interesse, geralmente, são aquelas que podem influenciar uma outra específica, conhecida como Kv1.3, e que são encontradas na superfície das células T e influenciam a sua proliferação e a migração.

As células T são os componentes do sistema imunológico, e a proteína Kv1.3 é de interesse particular das companhias farmacêuticas – uma vez que podem estar relacionadas em doenças inflamatórias como esclerose múltipla. A fim de testar se o veneno produzido pelos vírus com a Kv1.3, os investigadores adicionaram uma proteína fluorescente, que se iluminou quando houve a interação entre os dois. A partir disso, eles descobriram que, dos 589 selecionados, cerca de 27 apresentaram atividades bloqueadoras para a proteína, o que significa que eles poderiam ter utilidades terapêuticas.

Os investigadores esperam que essa nova técnica, que na verdade não requer amostras de veneno para começar, ajude a acelerar a análise e descoberta de novas proteínas derivadas que poderiam potencialmente beneficiar medicina.

[ IFLS ] [ Foto: Reprodução / Wikipédia ]

Jornal Ciência