Mel pode possuir toxinas prejudiciais ao fígado, de acordo com estudo

de Bruno Rizzato 0

Um estudo realizado na Austrália descobriu que o mel encontrado no país possui uma quantidade de toxinas naturais que excede os níveis internacionais de segurança.

São os alcaloides pirrolizidínicos (APs), que podem causar danos ao fígado de seres humanos, além de serem suspeitos de causar câncer quando consumidos em doses elevadas. Os dados são preocupantes, já que eles foram encontrados em 41 dos 59 tipos de méis australianos testados, que tiveram, em média, quatro vezes mais APs que os méis europeus.

Apicultores australianos alegam que o relatório se baseia em dados antigos e é exagerado, mas os pesquisadores alertaram que as mulheres grávidas e mães lactantes, em particular, devem limitar a sua exposição às toxinas.

Os APs são produzidos por cerca de 600 tipos de plantas comuns, na Austrália – incluindo a espécie Echium plantagineum, comumente encontrada na região – como proteção a pragas e insetos. Quando as abelhas bebem o néctar destas flores, os APs podem acabar parando no mel consumível.

A pesquisa mostrou que, em doses elevadas, APs podem causar lesão hepática grave em humanos, por vezes levando à morte. Não há evidência experimental de que estas toxinas possam causar câncer, mas pesquisas indicam uma grande probabilidade. Esta ligação não foi observada diretamente em seres humanos, mas John Edgar, especialista em APs das Nações Unidas, recomenda que as pessoas evitem a exposição sempre que possível.


A redução da contaminação em alimentos como mel, chás, saladas, farinha, leite e produtos à base de plantas pode resultar em uma redução significativa dos casos de câncer em todo o mundo, explicou ele.


Para diminuir estes riscos, a Food Standards da Austrália e da Nova Zelândia (FSANZ) – uma espécie de vigilância sanitária alimentar – permite o consumo de méis originados destas plantas, desde que eles sejam misturados com outro mel. “Remover essas plantas não é uma atitude viável para muitas áreas onde apiários são mantidos. Como contaminantes devem ser mantidos nos menores níveis possíveis, a mistura é a forma mais prática de reduzir os níveis de alcaloides de pirrolizidina”, disse um porta-voz da FSANZ.

Planta da espécie Echium plantagineum. Foto: Reprodução / Wikipédia
Planta da espécie Echium plantagineum. Foto: Reprodução / Wikipédia Commons

Mas, apesar dessas precauções, o teste, realizado por cientistas do Instituto Cork of Technology da Irlanda, revelou que a média de exposição diária para os consumidores de mel australiano foi de 0,051 microgramas por quilo de peso corporal em adultos, e 0,204 microgramas por quilo de peso corporal em crianças.

Estes níveis excedem muito o limite diário máximo que a Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos recomenda, de 0,007 microgramas por quilo de peso corporal. Porém, estão abaixo do limite australiano de 1 micrograma por quilo de peso corporal.

Enquanto isso, especialistas em abelhas estão alegando que os resultados do estudo são exagerados, baseados em amostras colhidas há mais de três anos. “A pesquisa exagera no consumo de mel e subestima o peso corporal, criando uma conclusão realmente enganosa, fora da realidade. Na Austrália, uma pessoa consome cerca de um quilo de mel por ano. Na pesquisa, usaram uma estatística que equivaleria a cerca de 7,5 quilos de mel por ano, por pessoa”, disse Jodie Goldsworthy, da empresa Beechworth Honey, que produz e vende mel. 

Embora mais testes sejam necessários para confirmar a gravidade do problema de contaminação, os especialistas concordam que a melhor solução é evitar o mel produzido a partir de plantas, como a Echium plantagineum, que é vendido em mercados especializados.

Fonte: Science Alert Foto: Reprodução / Flickr

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