Médico usou testículos de macaco para retardar envelhecimento no início do século passado

de Redação Jornal Ciência 0

Serge Voronoff foi um médico que, no início do século 20, já buscava maneiras de retardar o envelhecimento através de práticas pouco convencionais.

Sua ideia causou grande espanto na época, e até hoje ainda chega a assustar. Ele acreditava que transplantando testículos de macacos em seus pacientes, o envelhecimento era retardado ou completamente interrompido.

Nascido na Rússia, ele viveu na França desde os 18 anos, onde completou seus estudos sob a tutela de Alexis Carrel, pioneiro na área da cirurgia dos transplantes. Carrel chegou a ganhar um prêmio Nobel após a realização da pesquisa sobre suturas de vasos sanguíneos problemáticos. Com sua supervisão, ele passou a realizar transplantes entre animais e humanos, com objetivo de encontrar formas de cura para problemas de saúde. Mas, seu objetivo principal, desde sempre, foi o rejuvenescimento. Ele acreditava que o segredo estava na transferência de hormônios de animais para seres humanos.

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Junto com um psicólogo experimental chamado Charles-Édouard Brown-Séquard, que também estudava a relação de envelhecimento com glândulas de animais, ele passou a desenvolver teorias. O psicólogo acreditava tanto no trabalho de pesquisa de ambos, que ele passou a injetar uma substância criada do material coletado em testículos de cães e porquinhos-da-índia no próprio corpo, como um experimento vivo de suas projeções. Sem resultados, eles passaram a focar a teoria no transplante de tecidos.

Após passar mais de uma década no Egito testando teorias em eunucos (que poderiam ter problemas de desenvolvimento), o russo resolveu colocar os testes em prática na França, novamente. Procedimentos de transplante de ossos, tecidos e órgãos entre animais diferentes estavam sendo feitos, mas sua melhor experiência foi com o implante de testículos de animais jovens em outros mais velhos. Com alguns resultados intrigantes, ele resolveu relacionar primatas e humanos por conta das semelhanças biológicas e constituição corporal.

E assim foi feito, pela primeira vez, com um garoto de 14 anos, com problemas de aprendizagem, que recebeu a tireoide de um chimpanzé, em 1915.  Segundo Voronoff, o garoto recuperaria suas habilidades mentais apenas um ano após a cirurgia, com a alegação de que as glândulas sexuais dos animais soltavam um fluído na corrente sanguínea dos humanos que estimulava a atividade cerebral e aumentava a energia muscular e sexual, como uma espécie de “Viagra” rejuvenescedor.

O garoto de 14 anos que passou pela cirurgia

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Seu primeiro transplante completo, de fragmentos de testículos de macacos em humanos, aconteceu em 1920, e mais de 300 pessoas chegaram a receber o tratamento do médico, que começou a ficar famoso, principalmente na Inglaterra.

Porém, ele se empolgou demais com suas ideias mirabolantes, e seu declínio começou ao tentar descobrir se a ‘crueldade’ poderia ser transferida pela mesma forma, usando amostras testiculares de presos sentenciados à morte. Levando isso em conta, ele tentou realizar o transplante do ovário de uma mulher em uma macaca, tentando-a engravidar com esperma humano.

Ao longo do tempo, as pessoas começaram a rechaçar sua ambição e os pacientes que receberam seus implantes envelheceram normalmente, sem nenhum benefício. O maior problema foi quanto alguns pacientes relataram comportamentos primatas após o transplante. Sua credibilidade foi por água abaixo de vez em 1935, quando a testosterona foi descoberta e isolada.

[ Atlas Obscura ] [ Fotos: Domínio Público ]

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