Johnson & Johnson é condenada a pagar 72 milhões de dólares em caso que ligou talco de bebê a câncer de ovário

de Merelyn Cerqueira 0

Um juiz de Missouri, nos Estados Unidos, ordenou que a empresa Johnson & Johnson pagasse uma indenização de 72 milhões de dólares (pouco mais de 280 milhões de reais) para a família de Jackie Fox, uma mulher do estado de Alabama, de 65 anos de idade que morreu em outubro de 2015, e cujo uso diário de talco de bebê foi responsabilizado por um câncer de ovário terminal.

O caso é parte de um conjunto maior de alegações de que, por décadas, a Johnson & Johnson não conseguiu alertar adequadamente os seus clientes para a potencial ligação entre seus produtos à base de talco e o risco de desenvolvimento de certos tipos de câncer. Cerca de mil casos foram apresentados ao tribunal estadual de Missouri e outros 200 em Nova Jersey.

A decisão do juiz, anunciada no dia 22 de fevereiro, concluiu um julgamento de três semanas, e se efetivada, abrirá um precedente muito perigoso para a empresa que já enfrenta diversas outras disputas judiciais. De acordo com Nora Freeman Engstrom, professora de Direito em Stanford, em entrevista para a Associated Press (AP), “esse grande veredito do júri tende a ser diminuído durante o curso do processo de apelação, e eu espero que seja o caso aqui”. A empresa ainda pode recorrer da decisão.

Primeiramente, devem ser consideradas as duas mais importantes evidências apresentadas pela defesa da família de Fox. A primeira é que, apenas no ano passado a Johnson & Johnson mudou sua formulação para eliminar dois produtos químicos potencialmente perigosos que estavam presentes em seus produtos de higiene pessoal.

Conforme relatado pela AP, em maio de 2009 houve uma coalizão entre o grupo Campaign for Safe Cosmetics e a Johnson & Johnson para que fossem eliminados ingredientes duvidosos dos produtos destinados aos cuidados pessoais de bebês e adultos. Sendo assim, após três anos de petições, publicidade negativa e ameaças de boicote, a empresa concordou em eliminar, até 2015, os seguintes ingredientes: o contaminante 1,4-dioxano e o formaldeído (que na forma líquida é conhecido como formol), ambas substâncias consideradas potencialmente cancerígenas.

A segunda evidência trata-se de um memorando interno enviado por um consultor médico da Johnson & Johnson em setembro de 1997 que dizia que qualquer um que negasse a relação entre o talco higiênico e o câncer de ovário seria perseguido publicamente da mesma forma que aconteceu com as marcas de cigarro quando negaram a relação entre o cigarro e o câncer.

Do ponto de vista da empresa, “o veredito vai contra décadas de estudos científicos realizados com a finalidade de provar a segurança do talco como item cosmético presente em vários produtos da marca”, de acordo com a porta-voz Carol Goodrich, que ainda citou as investigações inconclusivas conduzidas por décadas pela US Food and Drug Administration e pelo National Cancer Institute, que não conseguiram provar a ligação entre o talco e o câncer.

Em sua fórmula natural, o talco, às vezes, pode conter amianto, conhecido como um agente cancerígeno, e se aplicado particularmente e regularmente na região genital – como no caso de Fox – pode aumentar o risco de câncer. Assim, desde 1973, nos EUA, todos os produtos feitos à base de talco foram proibidos de usar uma fórmula que tivesse amianto em sua composição. No entanto, ainda existem dúvidas de que esse produto realmente tenha sido retirado.

Entre estudos que acharam evidências e outros que disseram não descobrir a relação entre as duas coisas – como um publicado em 2014, que analisou 61.576 mulheres que estavam na menopausa há mais de 12 anos e não conseguiram descobrir se o uso no talco influenciava ou não no risco de câncer de ovário – a Agência Internacional de Investigação do Câncer (IARC), da OMS (Organização Mundial da Saúde), classificou os pós corporais à base de talco aplicados na área genital, como “potencialmente cancerígenos” para seres humanos. Contudo, os que estão livres de amianto seguem classificados como seguro.

Contudo, até que evidências mais concretas apareçam, seria essa a hora das empresas serem obrigadas a avisar os clientes sobre a presença de químicos prejudiciais em seus produtos? O júri do caso de Jackie Fox acredita que sim. “Esse caso foi claramente um termômetro, e os membros do júri, ao verem as evidências, ficaram convencidos, mesmo que tenham sido influenciados pela conduta da empresa”, completou Engstrom. 

[ Fonte: Science Alert ] [ Foto: Reprodução / Austin Kirk / Flickr ]

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