O que acontece com seu corpo quando você o doa para estudos científicos?

de Redação Jornal Ciência 0

Imagine que você acabou de morrer, mas antes disso você determinou a sua família que seu corpo deveria ser entregue a uma universidade para treinamento científico. Sua família, obviamente, respeita sua vontade e começa as preparações para fazê-lo. O que acontece a seguir? Aliás, o que exatamente a ciência fará com seu corpo?

Em um artigo para a The Conversation, o professor de Anatomia e Biologia Celular, Chris Briggs, da Universidade de Melbourne, na Austrália, respondeu essas perguntas, que você confere abaixo.

Tal como acontece com outras universidades, a de Melbourne tem um programa de doadores que adquire os corpos de pessoas falecidas para o uso em exames de anatomia e ensino e estudo de anatomia.

Na Austrália, o uso de cadáveres, ou partes de cadáveres, é regido pelo Human Tissue Act, de 1982 (Victoria), e a Universidade de Melbourne é a única que possui um programa credenciado para pessoas que desejam doar corpos para a ciência.

Antes de morrer

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Como doador vivo, você primeiro entra em contato com o Departamento de Anatomia e Biologia Celular, algo que pode fazer pessoalmente ou preenchendo formulários de acesso no site da universidade. Deve ficar claro que esta é uma decisão que tem que ser tomado por você, e não sua família.

Nos formulários, que devem exigir sua assinatura, bem como informações de um procurador, executor ou parentes mais próximos. Você deve ter em mãos um formulário de consentimento, que constitua um acordo formal entre você e o departamento.

Até que você morra, este não é considerado um acordo vinculativo. Desta forma, você pode mudar de opinião a qualquer momento, embora seja essencial que notifique por escrito sua decisão a universidade.

Você morreu

Agora é a vez de a universidade notificar seus parentes o período que deseja manter seu corpo – na Austrália o mínimo é de três anos, embora em muitos casos o uso seja menor. O departamento pode optar também por manter apenas uma amostra de tecido de seu corpo ou uma parte (ou partes) selecionada.

No entanto, não são todos os corpos que podem ser aceitos pela universidade. As circunstâncias que impedem que isso aconteça envolvem: corpos que não passaram por necropsia, atrasos na notificação de morte, causa da morte associada com doenças significativas, se a morte ocorreu a uma distância muito longa da universidade pretendida

Quem busca seu corpo?

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Após a notificação de sua morte, funcionários autorizados pela universidade coletarão seu corpo e o entregarão ao departamento. Amostras de sangue então serão colhidas e testadas para doenças como HIV e hepatite e haverá uma verificação de sua ficha médica em busca de sinais de demência, transfusões de sangue ou doenças infecciosas significativas, como tuberculose.      

A confirmação de qualquer um destes geralmente resultará na rejeição de seu corpo. Por outro lado, se aceito, o próximo passo é te embalsamar.

Neste processo, um líquido de preservação é injetado em um vaso sanguíneo localizado em sua virilha. Ele permeará todo seu corpo, desinfetando-o, fixando e hidratando tecidos, o que ajudará a dissecá-lo.   

Uma vez que o embalsamamento é finalizado, seu corpo é armazenado na geladeira até o início do próximo período letivo de aulas de anatomia.

Seu corpo está na aula

Os alunos de anatomia dissecarão seu corpo em grupos de seis a oito pessoas, com foco em partes específicas que corresponderão às fases do programa de ensino. Primeiro, eles removerão os tecidos de sua superfície, incluindo a pele, para aprenderem sobre as estruturas mais profundas, como os músculos, nervos, vasos e órgãos internos.

Em seguida, eles procurarão por sinais de doença que possam ter contribuído para sua morte e verificarão suas descobertas com as informações fornecidas pelo médico em relação à causa provável de sua morte. 

O processo de dissecação pode durar vários meses e, ao final, seus restos serão montados e colocados em um caixão para ser cremado.

Atualmente, cerca de 120 corpos são aceitos por ano pela Universidade de Melbourne e — esta é uma estatística importante — raramente algum aluno reconheceu o corpo como de alguma pessoa próxima.

Na verdade, os alunos costumam notificar se um parente resolveu doar o corpo para estudo. Quando isso acontece, o morto não é usado para dissecação na universidade em questão, mas transferido para outra instituição de ensino.

Assim, uma vez que todos os estudos são concluídos, os parentes são notificados que seu corpo foi cremado e as cinzas estão disponíveis para serem coletadas. Porém, se a universidade não receber uma resposta de sua família dentro de dois meses, ela mesma faz os arranjos para que suas cinzas sejam dispersas ou descartadas. Então, neste ponto, você poderá de uma vez por todas descansar em paz.

Fonte(s): The Conversation Imagens: Reprodução / The Conversation

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