Estes jarros antigos da argila poderiam resolver o mistério do campo magnético da Terra

de Gustavo Teixera 0

Artesãos que trabalham em Jerusalém há mais de 2.000 anos poderiam não ter pensado muito sobre o campo magnético da Terra, mesmo sem esse conhecimento, os frascos de barro que fizeram podem ter escrito um livro científico do magnetismo do planeta.

 

Graças às propriedades magnéticas das partículas de óxido de ferro encontradas na argila – que registram a intensidade do campo magnético da Terra – os cientistas descobriram uma história oculta do campo magnético flutuante da Terra nos anos de 750 a 150 a.C. As cerâmicas têm minúsculos minerais ‘gravadores magnéticos’ que guardam informações sobre o campo magnético do tempo em que o barro estava no forno“, disse o pesquisador Erez Ben-Yosef da Universidade de Tel Aviv, em Israel.

 

Cerâmica, barro, tijolos de barro queimados, cobre, quase tudo o que foi aquecido e depois resfriado pode se tornar um registrador dos componentes do campo magnético no momento do evento“, completou. Ben-Yosef e sua equipe analisaram 67 instalações de armazenamento de cerâmica da região da Judeia, que puderam ser datadas com precisão graças a selos reais dos governantes da época.

pot-2

Usando um magnetômetro supercondutor para medir a força do campo magnético bloqueado dentro dos fragmentos do frasco, os pesquisadores descobriram que o campo magnético da Terra era 40% mais forte do que é agora. Mas eles também descobriram que houve também um breve pico em sua força em torno de 700 a.C., o que mostra que o campo magnético pode aumentar ao longo do tempo, e não está simplesmente diminuindo. Podemos obter uma imagem mais clara do planeta e sua estrutura interna por meio de melhor compreensão do campo magnético, que atinge mais de 2.900 quilômetros para dentro da parte líquida do núcleo externo da Terra“, disse Ben-Yosef.

 

Registros modernos do campo magnético da Terra só remontam a 200 anos e, embora possamos extrair mais informações de rochas vulcânicas ricas em ferro que têm vários milhões de anos, é muito difícil datar essas rochas com precisão. Isso significa que qualquer dado extra que possamos obter é muito útil. Albert Einstein chamou o campo magnético da Terra de um dos grandes mistérios não resolvidos da Física: os cientistas pensam que é causado pelo ferro líquido no núcleo da Terra, o que cria um dínamo eletromagnético gigante que circunda o planeta.

 

Mas não se sabe com precisão o que faz com que a força do campo flutue. Como esse escudo magnético é crucial para nos proteger dos ventos solares e radiação cósmica, os cientistas estão dispostos a entender o máximo possível sobre os fenômenos. Enquanto o pico notável de 700 a.C. não teria incomodado os fabricantes de jarros da antiga Judeia, isso poderia causar caos na comunicação e internet de hoje, razão pela qual mais investigação sobre o comportamento do campo é tão importante.

 

Agora que se sabe que o campo foi muito mais forte há dois mil anos, os cientistas têm mais chances de descobrir o que vem a seguir. Eric Blinman, do Escritório de Estudos Arqueológicos do Novo México, nos Estados Unidos, que não estava envolvido na pesquisa, disse ao site Popular Science que descobertas semelhantes no futuro poderiam ajudar a reconstruir um registro mais detalhado do campo magnético da Terra. Para os geofísicos, é como se alguém tivesse aberto uma porta trancada para uma biblioteca que eles não sabiam que existia”, disse Blinman.

[ Science Alert ] [ Fotos: Reprodução / Science Alert ]

Jornal Ciência