Esqueça as pílulas antioxidantes e atenha-se apenas aos legumes

de Rafael Fernandes 0

Anúncios publicitários para suplementos nutricionais podem lhe dar a impressão de que sua comida não é significativamente nutritiva. Se os antioxidantes que ocorrem naturalmente em nossos alimentos, como brócolis e cenoura, são bons para nós, um suplemento com as mesmas propriedades também deveria ser bom. Mas, não é exatamente assim.

Os antioxidantes podem ajudar reparando danos em nossas células

Antioxidantes são tidos como protetores da nossa saúde, porque eles eliminam os radicais livres que danificam as moléculas de células e tecidos, agarrando elétrons e fazendo com que essas moléculas, por sua vez, tornem-se instáveis.

Um grupo de cientistas propôs, em 1981, a criação de um suplemento nutritivo próprio para combater radicais livres. Eles argumentaram que, uma vez que muitos estudos epidemiológicos observacionais mostraram que as pessoas que comem muitos vegetais possuem menor risco de câncer de cólon, doenças cardíacas e muitas outras condições, o ingrediente ativo deveria ser identificado e colocado em uma pílula. Eles acreditavam ser o betacaroteno, que ajuda a tornar a cenoura cor-de-laranja, porque ele é um antioxidante.

Mas não é tão simples. A interação constante entre receptores de elétrons (radicais) e doadores (antioxidantes) é uma bioquímica muito equilibrada e complicada em relação ao modo como as células sobrevivem e crescem. Quando há muitos receptores ou doadores, o sistema fica fora de equilíbrio e danos podem ocorrer. Então, antioxidantes extras não são necessariamente uma coisa boa.

Para descobrir essa relação, no final de 1980 dois testes de intervenção, um em Seattle e outro na Finlândia, começaram. Testes de intervenção são extremamente caros, e estes não foram exceção.

Para o teste de Seattle em 1988, cerca de 18.000 homens e mulheres foram aleatoriamente separados em dois grupos: um recebia um comprimido com betacaroteno e o outro recebia um placebo – um comprimido inócuo. O plano era acompanhar os grupos por 10 anos. Os pesquisadores acreditavam que observariam um menor risco de câncer de pulmão no grupo do comprimido de betacaroteno. Mas o contrário aconteceu e o processo precisou ser interrompido abruptamente porque o grupo do betacaroteno sofreu significativamente mais casos de câncer de pulmão do que o grupo do placebo. A mesma coisa foi vista no estudo na Finlândia.

A quantidade de betacaroteno no comprimido era muito mais elevada do que a que ocorre naturalmente no corpo em ambos os ensaios. Os investigadores pensaram que, se um pouco é bom, mais deveria ser melhor. Eles estavam enganados.

Quando se trata de antioxidantes, mais não é necessariamente melhor. Em 2007, uma análise combinada de 68 estudos aleatórios sobre quaisquer suplementos antioxidantes apontou um aumento estatisticamente significativo de 5% no risco de morte nos grupos que tomaram os suplementos, em comparação com os grupos que tomaram pílulas de placebo.

Quando o número absoluto de óbitos aumenta em 5%, há um risco enorme. As consequências foram um choque desconcertante para os pesquisadores; o primeiro édito na medicina é não causar nenhum dano, mas estes ensaios fizeram mal.

Os resultados mostraram que quando os comprimidos antioxidantes individuais foram suplementados com betacaroteno, vitamina A e vitamina E, cada um deles elevou o risco de morte. Em adição ao seu papel como vitaminas, A e E são também antioxidantes. A vitamina C e selênio não tiveram efeito algum sobre os riscos.

Para pessoas saudáveis, tomar suplementos de antioxidantes não parece fazer bem, mas pode fazer mal. No entanto, pode haver uma exceção a esta regra. Um recente estudo multivitamínico que foi parte de uma grande pesquisa de médicos chamada Physician’s Health Study II, em Harvard, pode nos dar uma pista.

O estudo começou em 1997, com quase 15.000 médicos do sexo masculino designados aleatoriamente a tomar um dos quatro tipos de pílulas. Um era um placebo e os outros eram ou vitamina E, ou vitamina C, ou uma multivitamina que continha alguns antioxidantes – como uma baixa dose de vitamina E. Como os investigadores queriam usar um produto disponível para o público, eles decidiram utilizar Centrum Silver, um multivitamínico fabricado pela Pfizer. Apesar de fornecer o Centrum Silver, a Pfizer não desempenhou nenhum papel no estudo.

Até 2011, cerca de 2.700 dos 15.000 participantes foram diagnosticados com câncer. As vitaminas E e C não tiveram nenhum impacto no risco de câncer neste estudo, mas o grupo do multivitamínico mostrou um risco 8% inferior. O multivitamínico não continha ferro, que é saudável. Ele também continha muito menos nutrientes encontrados em suplementos. Por exemplo, Centrum Silver contém muito menos vitamina E do que você encontraria em um suplemento típico de vitamina E.

Isso destaca um problema sério com todas as tentativas de colocar boa comida em forma de pílula: a dose vai muito além do que está nos alimentos reais. Por exemplo, o gérmen de trigo tem a mais elevada concentração de vitamina E testada. Entretanto, os comprimidos utilizados nos ensaios de vitamina E tinham mais de 10 vezes esta quantidade. O paradigma da medicina ocidental de “se um pouco é bom, mais deve ser melhor” quase nunca procede. Por exemplo, a água é uma coisa boa, certo? Mas beber muita água em um curto espaço de tempo pode te matar.

Os vegetais que são ligados ao menor risco de doença contêm muitos nutrientes, além de antioxidantes como betacaroteno. A combinação de todos estes nutrientes em uma fonte natural pode ser a chave para a sua eficácia.

[ The Conversation ] [ Foto: Reprodução / Pixabay ]

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