Dados de antigos terremotos estão ajudando especialistas na previsão de novos tremores

de Merelyn Cerqueira 0

As linhas de falhas tectônicas são especialmente perigosas quando não se deslocam por um certo tempo. Ao invés de resultar em uma série de temores de médio porte, a pressão acumulada pode ter consequências devastadoras. Assim, como existem apenas algumas décadas de monitoramento detalhado, os sismólogos, muitas vezes, encontram dificuldades para descobrir sobre a ocorrência de terremotos passados e a pressão liberada. Tais informações seriam essenciais para prever futuros desastres em certas regiões.

Com isso em mente, o geocientista Mayank Joshi, do Institute of Himalayan Geology, transformou alguns templos hindus do norte da Índia em objetos de estudo para tentar aprender um pouco mais sobre as linhas tectônicas da Terra. O trabalho foi feito em uma região conhecida como Caxemira, que em 1555 foi atingida por um terremoto devastador. Contudo, os detalhes sobre esse evento ainda são vagos e não há debates a respeito de quantos outros terremotos subsequentes, incluindo quatro grandes eventos desde 1905, ocorreram ao longo da mesma falha geológica.

A possibilidade de um evento de grande magnitude – 9.0 na escala Richter – com o potencial de afetar milhões de pessoas já é considerada. Então, Joshi olhou para os danos causados a templos que foram danificados, mas sobreviveram aos tremores. A maioria deles foi reconstruída entre os séculos 7 e 10, presumivelmente com paredes retas e pisos lisos.

Assim, considerando um calendário de danos subsequentes, que de fato é um grande desafio, ele conseguiu estabelecer um padrão. Ele disse que quando todos os danos aconteceram ao mesmo tempo, os resultados possuem uma certa consistência em seu padrão e em sua orientação. No entanto, tudo fica mais confuso quando vários terremotos afetaram a mesma construção.

Para a publicação Seismological Research Letters, Joshi e seus colegas relataram sobre a direção e inclinação das estruturas dentro dos templos na região de Chamba, uma cidade famosa por suas antigas construções religiosas. Rachaduras e distorções nos pisos de pedra também foram consideradas.

O terremoto devastador de 1555 ficou centrado no Vale de Srinagar, mas o especialista concluiu que os templos de Chamba – que estão 200 quilômetros ao sudoeste – também foram afetados. Porém, ele não encontrou evidências de acontecimentos mais recentes, além do terremoto de Kangra que afetou a região em 1905. De acordo com dados dos jornais locais, datados a partir do início do século 20, ele descobriu que as áreas de Caximira, entre Srinagar e Chamba, não foram afetadas por grandes terremotos desde os últimos 451 anos.

Agora, se a pressão nas falhas geológicas dessas regiões continuar sendo reprimida por mais tempo, o próximo terremoto poderia ser um grande problema. Ele não especula que a magnitude será de 9.0, semelhante ao terremoto que destruiu Fukushima, no Japão. No entanto, ele teme que um “sismo de magnitude semelhante ao que devastou a Caxemira Oriental” possa ocorrer. Esse evento em questão, de magnitude 7.6 na escala Richter, atingiu o sudeste da falha. O terremoto matou pelo menos 80 mil pessoas, deixando cerca de 4 milhões desabrigadas.

[ IFLS ] [ Fotos: Reprodução / IFLS ]

Jornal Ciência