Conheça seis modinhas “inofensivas” que quase causaram destruição generalizada

de Merelyn Cerqueira 0

Modismos quase nunca estão relacionados a coisas boas, mas raramente são prejudiciais.

Passamos pela moda dos tamagotchis, cubos mágicos, tênis com luz no solado, entre outros brinquedos populares no passado, para chegarmos nos modismos mais tecnológicos, como qualquer aparato da Apple ou até os inexplicáveis hoverboards. No entanto, apesar do dinheiro investido, acabamos abandonando todas essas modas, e, na maioria das vezes, sem resquício algum de interferência em nosso bem-estar. 

Porém, alguns modismos não podem ser considerados tão inofensivos. Eles podem ter marcado o início de guerras, mortes, destruição e escravização de nações inteiras, tudo por causa de algum objeto simples que as pessoas queriam usar, comer ou ostentar. O site Cracked apresentou seis deles, e nós mostramos para você agora.

6 – A “febre” do rádio (Ra) que fez de Paris uma cidade radioativa

Marie-Curie

Em 1898, Marie e Pierre Curie descobriram o rádio, que como o próprio sugere, trata-se de um elemento químico altamente radioativo, capaz de envenenar qualquer coisa viva que entre em contato prolongado com ele. Posteriormente, o elemento acabaria se tornando a base para o desenvolvimento da radioterapia para o tratamento de câncer.

No entanto, naquela época, as pessoas não tinham ideia do ele fazia. Por brilhar no escuro, e ter sido descoberto um momento em que a Ciência era considerada quase magia, as pessoas começaram a colocar rádio em tudo que conseguissem pensar e assim começou um modismo radioativo que atingiu Paris (e, em menor quantidade, o resto do mundo).

O elemento virou tendência e por alguma razão inexplicável, as pessoas passaram a acreditar que ele era um tônico revigorante para a vida, ainda mais por causa do característico brilho. Sendo assim, o rádio foi adicionado a pastas de dentes, pomadas, barras de chocolate, maquiagens, cremes para o rosto, bem como supositórios utilizados para melhorar a capacidade sexual. Além disso, era comercializada a chamada “agua de rádio”, uma “vitamina” vendida com o slogan “A cura para os mortos-vivos”. 

Foi um momento muito divertido e “brilhante” na cidade, exceto pelo fato de que muita gente estava sofrendo com os efeitos da radiação. Posteriormente, a ANDRA, uma organização responsável pelo monitoramento e tratamento de resíduos radioativos na França, identificou 130 áreas que ainda possuíam traços de radiação capazes de trazer riscos à saúde.

Atualmente, a organização gasta 4 milhões de euros por ano em descontaminação, tudo por causa de alguns parisienses “modinhas” que queriam colocar as mãos em uma das mais perigosas criações da natureza.

5 – A moda da tinta verde que envenenou milhares de pessoas na Inglaterra

Em meados de 1800, a Inglaterra vivia a Era Vitoriana. Nesse período, um corante chamado “Verde de Scheele” virou mania entre a população. O tal verde foi usado em tudo, desde roupas, acessórios, brinquedos, velas, cortinas, papéis de parede e até alimentos. No entanto, o principal ingrediente da tintura era o arsênico, que como muitos de nós sabemos, trata-se de um poderoso veneno. Sendo assim, as pessoas foram literalmente revestindo roupas, brinquedos e paredes com um metaloide capaz de causar necrose nos órgãos.

A pior parte é que, elas sabiam que o arsênico era venenoso, pois suas propriedades já eram bem conhecidas à época, e a presença dele na tintura não era nenhum segredo. Porém, por alguma razão também inexplicável, essa informação não impediu que a coloração fosse utilizada em excesso.

Apesar de também ser utilizada em alimentos, foram os papéis de parede que causaram os maiores números de envenenamento. O gás tóxico lançado pela composição da umidade das paredes, acabou matando milhares de famílias.

Posteriormente, o perigo foi melhor revelado e até mesmo a Rainha Vitória mandou que retirassem os papéis de parede de sua residência. No entanto, cem anos depois, as pessoas ainda lutam com as sequelas deixas pelo Verde de Scheele, que fez de alguns dos edifícios mais antigos do País, verdadeiras câmaras de gases.

4 – A mania britânica por chá deixou milhares de chineses viciados em ópio e iniciou uma guerra

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É de conhecimento mundial que os ingleses têm uma certa mania por chás. No entanto, durante o século XIV, era o gin que estava fazendo a cabeça da população. Essa bebida era mais barata que o chá, que era importado da China a um preço muito caro que só poderia ser pago em prata. No entanto, quando o movimento dos temperos e especiarias varreu a Inglaterra, a demanda por chá explodiu. Sendo assim, os ingleses passaram a trocar o chá por nada mais do que ópio.

O ópio era ilegal na China, mas ainda havia uma forte demanda por ele, o que fez com que os britânicos conseguissem trocar enormes quantidades de chá pela droga. Assim, o chá invadiu a Inglaterra, e o ópio chegou à China. Logo, a maioria dos chineses já estava viciada: quase 90% dos homens com idade inferior a 40 anos, que viviam ao longo da costa.

Obviamente que os impactos foram devastadores, com os viciados vendendo tudo o que possuíam para conseguirem mais drogas e o forte impacto que isso causava na economia chinesa. Sendo assim, em 1839, o imperador da China decidiu que era hora de acabar com o comércio ilegal de drogas, apreendendo milhares de caixas de ópio e cortando as relações de comércio de chá com a Inglaterra.

Porém, a esse ponto, a mania do chá já tinha se espalhado por toda a Inglaterra, e a demanda continuava crescendo. Para solucionar esse problema, eles resolveram mandar a marinha real à China. Foram enviados 16 navios de guerra britânicos que bombardearam por dois anos a região da costa chinesa para Xangai, massacrando de 20.000 a 25.000 soldados e recuperando o chá.

Posteriormente, os chineses foram forçados a assinar um tratado de controle de concessão da Ilha de Hong Kong aos britânicos, a abertura de cinco rotas de comércio para a venda de ópio, bem como o pagamento de todas as despesas causadas pela guerra.

3 – O amor mundial pelo jeans pintou a China de azul

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Como muitas outras commodities, a produção de denim é terceirizada na China – especialmente de Xintang, que produz cerca de 200 milhões de calças jeans por ano. No entanto, a combinação de água sanitária e corante índigo, utilizados no processo de fabricação, está envenenando Zhu Jiang (Rio das Pérolas), uma hidrovia de mais de 2.400 quilômetros de extensão que fornece água potável para mais de 12 milhões de pessoas.

O escoamento de resíduos das fábricas de denim contém metais pesados, como chumbo, mercúrio, cadmio e selênio. Todos são neurotoxinas ou agentes cancerígenos por si só, mas quando misturados em um fluxo, viram verdadeiro “suco de câncer” capaz de detonar um cérebro.

2 – A mania dos romanos por açúcar acabou causando um envenenamento massivo por chumbo

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Os antigos romanos descobriram que, se pegassem uma certa quantidade de frutas e fervessem até que toda a água secasse, resultaria em um xarope muito doce, chamado por eles de defrutum. Eles colocavam essa substância em tudo: carne, queijos, vinhos e até mesmo o utilizavam como conservante – mais ou menos como utilizamos o xarope de milho hoje em dia.

A princípio, a ideia não parece ser tão nociva. No entanto, não foi a obesidade o problema a que nos referimos, e sim um envenenamento massivo por chumbo. As frutas eram essencialmente fervidas em panelas de chumbo, já que as de bronze ou cobre mudariam o gosto do xarope. Sendo assim, cada dose da substância continha mais de 1.000 vezes a quantidade aceitável de chumbo no organismo. Ou seja, a maioria dos romanos estava sofrendo com envenenamento crônico causado pelo vício em defrutum, apresentando sintomas de perda de peso, anemia, irritabilidade e delírio. Com isso, alguns dos historiadores chegaram até a fazer conexões com o uso da substância como causa de algumas das maiores indulgências realizadas por certos imperadores romanos.

Assim, como o caso do arsênico na Inglaterra, os romanos também estavam cientes de que consumir o defrutum poderia causar um certo tipo de loucura, no entanto, eles simplesmente não davam a mínima.

1 – A demanda por pneus de bicicletas resultou em um genocídio no Congo

Durante a década de 90, a febre pelo ciclismo atingiu níveis epidêmicos na Europa e na América, as pessoas estavam prontas para mergulhar de cabeça em qualquer frivolidade que pudessem encontrar. Nos Estados Unidos, à época, havia uma bicicleta para cada sete americanos, e em 1895, a bicicleta era tão popular que os jornalistas do The New York Times se sentiram plenamente confiantes em afirmar que, qualquer um que não possuísse uma bicicleta era aleijado ou irremediavelmente quadrado.

Uma das causas para o aumento da demanda pelo meio de transporte foi a invenção dos pneus infláveis, já que, anteriormente, eram utilizadas rodas de madeira ou metal. Sendo assim, deu-se início à escravização de uma nação africana inteira, apenas para suprir a “necessidade” das pessoas.

A vítima da vez foi o Congo, governada à época pelo rei Leopoldo II da Bélgica, que a esse ponto já explorava o país em busca de marfim e borracha. Sendo assim, ele estava mais do que disposto a atender à crescente demanda por pneu e obrigou a população congolesa a trabalha dia e noite na extração da borracha e produção dos pneus. Se uma aldeia não produzisse uma quantidade específica de borracha, o rei ameaçava queimá-las, matar todas as crianças, cortar a mão de todos os trabalhados ou realizar as três opções de uma só vez.

Nesse período, a escravização já era, tecnicamente, proibida em todo o mundo, mas Leopold manteve o Congo isolado, controlando completamente todas as rotas de comércio e transformando toda a área em uma gigante e desumana fábrica de borracha.

Durante a febre do ciclismo, foram vendidas aos EUA mais de 10 milhões de bicicletas. Na mesma época, a população do Congo diminuiu quase em 10 milhões.

[ Cracked ] [ Foto: Reprodução / Pixabay / Divulgação / Wikipédia ]

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