Como seriam os relacionamentos se fossem baseados na Bíblia?

de Merelyn Cerqueira 0

Mesmo que você não seja evangélico ou católico, e tampouco se importe com o que está escrito na Bíblia, certamente deve conhecer alguém que defenda ao pé da letra os conceitos bíblicos. Caracterizados como conservadores sociais, essas pessoas se opõem a licenças de casamento para casais homossexuais e defendem a ideia da chamada “família tradicional”, porque assim foi prescrita por Deus na Bíblia.

Contudo, conforme relatado pela psicóloga e escritora Valerie Tarico, PhD pela Universidade de Iowa, nos EUA, ao The Independent, na verdade os escritores bíblicos deram sinais positivos para muitos tipos de união sexual ou casamento. E eles utilizaram diversos recursos literários para sinalizar essa aprovação de Deus. Logo, o que era escrito por meio de lei ou profeta, poderia ser endossado por Jesus ou Deus, que os recompensariam através de bênçãos, tornando-os homens poderosos.

Segundo as interpretações da psicóloga, a Bíblia endossa explicitamente a poligamia, escravidão sexual, e às vezes, também, premia o estupro e incesto. O Jornal Ciência é contra toda e qualquer discriminação. Nós somos a favor do respeito e tolerância acima de qualquer coisa. Abaixo, você confere a interpretação da psicóloga sobre estes conceitos acima citados. Além disso, os cristãos rebatem as informações, citando que o conteúdo explicitado por ela são do Velho Testamento, fatos estes que seriam contestados pelo Novo Testamento. Confira: 

1 – Poligamia

Segundo ela, a poligamia é a norma do Antigo Testamento. Baseando-se em informações publicadas pelo Biblicalpolygamy.com, foram identificadas 40 figuras bíblicas masculinas, todas quais possuíam várias esposas.

2 – Escravas sexuais

A Bíblia também fornece instruções de como adquirir vários tipos de escravas sexuais. Segundo Tarico, isso pode ser visto no livro de Êxodo. Por exemplo, se um homem compra uma menina hebreia e ela não é capaz de “agradá-lo”, ele fica impossibilitado de vendê-la a um estrangeiro. Ela também pode ser liberada, se o homem não tiver intenção de prover sua subsistência. 

3 – Virgens seriam oferecidas como espólios de guerra

No livro de Números, as mulheres virgens são contadas como espólios de guerra. Os servos de Deus ordenavam que os israelitas matassem todas as mulheres midianitas, bem como crianças do sexo masculino. A ideia era de manter as meninas virgens com eles. Segundo a psicóloga, em Deuteronômio, a Lei de Moises explicita um ritual usado para purificar uma virgem cativa antes do sexo.

4 – Incesto

O incesto é proibido na Bíblia, mas Deus faz exceções. Por exemplo, Abraão e Sara são descritos como meios-irmãos. Em outro caso, reportado em Gênesis, as filhas de Ló, o embebedam e tem relações com ele. Logo, elas são recompensadas por Deus com um filho cada: Moabe e Bem-Ami, que, posteriormente, se tornaram patriarcas de grandes nações.

5 – Relação entre viúvas e cunhados

Se um homem morre sem filhos, torna-se o dever de seu irmão engravidar a viúva. Em Gênesis, é dito que um homem que prefere “dar o sêmen a terra”, ao invés de ajudar na descendência do morto, é castigado por Deus. No Novo Testamento essa tradição sobrevive, sendo reportada no livro de Mateus.

6 – Homens seriam incentivados pelas esposas a terem filhos com outras mulheres

Após sete décadas sem filhos, Sara, esposa frustrada de Abraão, recomenda que o marido durma com uma escrava, Agar, para que assim uma família pudesse ser constituída através dela. Logo, Agar engravida e duas gerações depois, as irmãs-esposas de Jacob, fazem o mesmo, competindo pelo número de filhos. Segundo a psicóloga, isso foi reportado em Gênesis. Contudo, um homem não deve ter relações sexuais com uma escrava, se ela estiver prometida a outro. Se isso acontecer, ele deve ser flagelado, além de ter de sacrificar uma ovelha.

7 – Não haveria justiça para mulheres vítimas de violência sexual

Segundo Tarico, em Deuteronômio (22:28-29), uma menina hebreia que é estuprada, pode ser vendida pelo seu molestador por 50 siclos de prata (aproximadamente 2 mil reais). Contudo, ela deve ser mantida pelo agressor como sua esposa, por ele ter cometido o pecado de a ter humilhado.

Além disso, o consentimento feminino é irrelevante na Bíblia. Isso acontece a partir do momento em que é dito que Eva recebeu uma costela de Adão e ficou subordinada a ele.

[ Independent ] [ Foto: Reprodução / Mega ]

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