Como era a realidade da Medicina quando não existiam antibióticos?

de Rafael Fernandes 0

Antes dos antibióticos, a medicina era altamente precária. Médicos dispunham de todo tipo de tratamento, a maioria deles, com muita falta de higiene. As terapias alternativas têm sido utilizadas para tratar infecções desde a antiguidade, mas nenhuma é tão segura e eficaz como a terapia antimicrobiana moderna.

E precisamos, agora, nos precaver em relação às novas superbactérias, cujo aumento pode levar-nos à regressão para as técnicas antigas. Confira abaixo algumas que foram usadas em tempos anteriores aos antibióticos. 

Sangria

Originária do Egito em 1.000 a.C. e usada até meados do século 20, a sangria era indicada como uma terapia médica. Desde a Antiguidade até os anos 40, recomendava-se sangria para uma variedade de condições, mais particularmente para infecções.

Uma edição de 14 Princípios e Prática da Medicina de William Osler, de 1942, incluía a sangria como um tratamento para pneumonia. Acreditava-se que infecções eram causadas por um excesso de sangue, de modo que o sangue removido do paciente o faria melhorar.

Um método consistia em fazer uma incisão em uma veia ou artéria, mas não era o único. Outro método comum era colocar copos de vidro aquecidos sobre a pele, criando um vácuo e quebrando pequenos vasos sanguíneos, resultando em grandes áreas de hemorragia na pele. Apesar da sangria ter sido recomendada por médicos, a prática era realmente realizada por barbeiros (insetos transmissores de Chagas) ou sanguessugas.

Não poderia, na realidade, ter algum benefício para a prática, pelo menos para certos tipos de bactérias nas fases iniciais da infecção. Muitas bactérias precisam de ferro para dividirem-se, e é realizada em ferro “heme”, um componente da célula vermelha do sangue. Em teoria, menos células vermelhas do sangue resultaria em menos ferro disponível para sustentar a infecção bacteriana. Muitos morreram na tentativa de encontrar a cura. Muitos outros, conseguiram sobreviver com o método. 

Um pouco de mercúrio para Sífilis

Os elementos químicos e seus compostos têm sido historicamente utilizados como terapia para uma variedade de infecções, particularmente para infecções na pele e sífilis. Iodo, bromo e compostos contendo mercúrio foram usados para tratar feridas infectadas e gangrena durante a Guerra Civil Americana. O bromo foi usado com mais frequência, mas era muito doloroso quando aplicado superficialmente ou injetado na ferida, e podia causar danos nos tecidos.

Mercúrio usado para tratar sífilis.

Estes tratamentos inibiam a replicação de células bacterianas. Mas, eles também podiam prejudicar as células humanas normais. Os compostos podem ser aplicados na pele, tomado por via oral ou injetado. Os efeitos secundários podiam incluir grandes danos na pele, nas mucosas, nos rins, no cérebro, e até mesmo matar o paciente.

Arsfenamina, um derivado arsênico, também foi utilizado na primeira metade do século XX. Apesar de ter sido eficaz, os efeitos secundários incluíam inflamação do nervo óptico, convulsões, febre, lesão renal e erupção cutânea. Felizmente, em 1943, a penicilina substituiu estes tratamentos e continua como terapia de primeira linha para todos os estágios da sífilis.

Mel e suas propriedades

Uma variedade de remédios de ervas evoluiu para o tratamento de infecções, mas muito poucas têm sido avaliados por ensaios clínicos controlados. Uma das mais famosas terapias derivadas de ervas é a quinina, utilizada para tratar a malária. Ela foi originalmente isolada a partir da casca da árvore quina, que é nativa da América do Sul, e hoje usamos uma forma sintética para tratar a doença.

Antes disso, casca da quina era seca, moída em pó e misturada com água para as pessoas beberem. A utilização de casca de quina para tratar febres foi descrita por missionários jesuítas em 1600, apesar de ter sido provavelmente usada em populações nativas muito antes disso.

A artemisinina, que foi sintetizada a partir da planta Artemisia annua (artemísia), é um outro tratamento eficaz contra a malária. Um cientista chinês, Dr. Tu Youyou, e sua equipe, analisaram textos médicos chineses antigos e remédios populares, identificando trechos que relatavam que a Artemisia annua podia efetivamente inibir a replicação do parasita da malária em animais. Dr. Tu Youyou ganhou em parceria o Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina de 2015 pela descoberta da substância artemisinina. 

O uso do mel na cicatrização de feridas remonta aos sumérios em 2000 a.C. O alto teor de açúcar pode desidratar as células bacterianas, ao passo que a acidez pode inibir o crescimento e divisão de muitas bactérias.

Mel também tem uma enzima, a glucose oxidase, que reduz oxigênio para peróxido de hidrogênio (conhecido popularmente como água oxigenada), que mata as bactérias. O mais potente mel que ocorre naturalmente acredita-se ser o Manuka. Ele é proveniente das flores da planta da espécie Leptospermum scoparium, com propriedades antibacterianas potentes.

Como outras terapias derivadas de plantas, o mel inspirou a criação de produtos farmacêuticos. Medihoney, um produto de uso clínico desenvolvido pela Derma Sciences, é utilizado para promover a cicatrização de queimaduras, bem como outros tipos de feridas.

Campanha de luta antimicrobiana

Infelizmente, graças à utilização excessiva e indevida, os antibióticos estão se tornando menos eficazes. A cada ano nos Estados Unidos, pelo menos 2 milhões de pessoas são infectadas com bactérias que são resistentes aos antibióticos, e pelo menos 23.000 pessoas morrem como resultado direto dessas infecções.

A resistência também pode surgir em outros microrganismos, incluindo fungos e parasitas. O aumento da resistência tem levantado a possibilidade de que certas infecções possam não serem tratáveis com os antimicrobianos que temos atualmente. A pressa de encontrar novos tratamentos para estas infecções é grande, e os pesquisadores continuam explorando novas terapias e novas fontes de antibióticos.

Você pode evitar infecções em primeiro lugar com a imunização adequada, as práticas de manipulação de alimentos seguros e lavar as mãos. Acompanhar infecções resistentes para que possamos aprender mais sobre elas e seus fatores de risco, bem como limitar o uso de antibióticos em humanos e animais, também podem ajudar a reduzir o risco de bactérias resistentes.

Fonte: Daily Mail Foto: Reprodução / Torange

Jornal Ciência