Cientistas identificam variante do gene que influencia o quanto a maconha afeta humanos

de Bruno Rizzato 0

As ligações entre o consumo de cannabis (princípio ativo da maconha) e psicose são alvos constantes de estudos. Alguns muito recentes indicam que um gene chamado AKT1 aumenta a chance de que consumidores de cannabis desenvolvam um transtorno psicótico.

Agora, pela primeira vez, pesquisadores no Reino Unido demonstraram que este gene também determina qual será a resposta à cannabis em indivíduos saudáveis. Isto significa que AKT1 pode ser utilizado para prever como as pessoas ficarão com a alteração da mente proporcionada pela cannabis. A variante do gene pode ser um alvo para a prevenção e tratamento de psicose causada pela substância.

“Estes resultados são os primeiros a demonstrar que as pessoas com esse genótipo, AKT1, são muito mais propensas a experimentar fortes efeitos ao fumar maconha, mesmo que sejam saudáveis”, disse a psicofarmacologista Celia Morgan, da Universidade de Exeter. Segundo os pesquisadores, cerca de 1 por cento dos usuários de cannabis acabam desenvolvendo psicose, sendo que aqueles que fumam a droga diariamente duplicam o seu risco de um transtorno psicótico.

Embora pesquisas anteriores tenham encontrado uma alta prevalência de uma determinada variante do genótipo AKT1 em usuários de cannabis com psicose, não se sabia como o gene e os efeitos da cannabis estavam relacionados. Para descobrir isso, os cientistas pediram a ajuda de 442 usuários de maconha jovens e saudáveis ​​que foram testados tanto sob a influência da droga quanto sóbrios. A extensão dos sintomas de intoxicação e os efeitos da perda de memória foram medidos quando os participantes estavam sob a influência e, em seguida, comparados com os resultados de um teste feito 7 dias mais tarde, quando estavam sóbrios.

Os pesquisadores descobriram que aqueles com a variação do gene AKT1 eram mais propensos a experimentar uma resposta psicótica. Isto é importante saber, pois acredita-se que as respostas psicóticas frequentes poderiam estar relacionadas a um risco adicional de desenvolver um transtorno psicótico. Além disso, quando se trata de perda de memória a curto prazo, as mulheres foram mais susceptíveis do que os homens.

“Estudos em animais descobriram que os machos têm mais receptores de cannabis que funcionam em partes do cérebro importantes para a memória a curto prazo, tais como o córtex pré-frontal. Precisamos de mais pesquisas nesta área, mas os nossos resultados indicam que os homens poderiam ser menos sensíveis aos efeitos da cannabis, em relação às mulheres, no que diz respeito a prejudicar a memória”, disse Morgan.

Os pesquisadores esperam que suas descobertas, relatados na Translational Psychiatry, poderiam ajudar a identificar pessoas em maior risco dos efeitos negativos da cannabis e pensar em um medicamento alvo-genótipo, capaz de impedir o desenvolvimento de um transtorno psicótico por conta do uso recreativo de maconha.

“Colocar-se repetidamente em um estado psicótico ou paranoico pode ser uma razão pela qual essas pessoas possam desenvolver psicose. Apesar da psicose induzida por cannabis ser muito rara, quando acontece, pode ter um impacto terrível sobre a vida dos jovens. Esta pesquisa poderia abrir caminho para a prevenção e tratamento da psicose por cannabis”, concluiu Morgan.

Fonte: Biological Psychiatry Journal Foto: Reprodução / Flickr

Jornal Ciência