Cientistas descobrem que nosso cérebro é mais ativo durante o verão

de Merelyn Cerqueira 0

Pesquisadores da Universidade de Liége, na Bélgica, em um estudo publicado pela revista Proceedings, recrutaram 28 voluntários jovens e saudáveis e testaram a capacidade cognitiva de todos em diferentes meses do ano.

As evidências encontradas relatam que nossos cérebros são mais ativos durante o verão, os meses mais quentes parecem “dar um gás” nas atividades neurológicas, de acordo com testes de atenção e memória.

Embora os participantes tenham sido mantidos em condições de pouca luz dias antes de serem testados, a diferença sazonal que reflete no funcionamento do cérebro é evidente. O que sugere que o cérebro está contando com um “relógio interno” ao invés de sinais de luz do dia. Os participantes não chegaram exatamente a resultados melhores quando testados no verão. O que o teste mediu foi como o cérebro das pessoas fica mais ativo durante essa época do ano. Segundo os cientistas, o que é interessante sobre essa primeira parte da pesquisa é como as estações podem afetar a nossa função cognitiva e fornecer indícios sólidos de que exista essa ligação.

Os testes realizados nos voluntários mediram duas tarefas cognitivas diferentes: a capacidade de atenção e a memória de trabalho – que se refere à memória de curto prazo, associada à quantidade de informação que um cérebro pode armazenar em um curto período de tempo. Para garantir que os resultados não fossem influenciados por estímulos externos, os participantes foram mantidos por quatro dias e meio em uma sala pouco iluminada antes dos testes. Logo após, foram todos ligados a máquinas de ressonância magnética funcional (RMf) que, durante os testes, permitiriam que os pesquisadores verificassem o funcionamento dos cérebros durante todo o ano.

Embora os resultados não mostrem diferenças significativas com base nas temporadas, os cérebros dos participantes pareceram funcionar mais lentamente durante os meses mais frios. Durante os testes de atenção, a atividade cerebral era maior em torno do solstício de verão (o dia mais longo do ano) e menor durante o solstício de inverno (o dia mais curto do ano). Quando testada para a memória de trabalho, a função cognitiva atingiu seu pico durante o equinócio de outono (quando o comprimento do dia é quase igual ao da noite). No hemisfério norte, isso ocorre entre 22 e 24 de setembro. Já uma menor função cognitiva na memória de trabalho foi verificada na época do equinócio de primavera.

Segundo os pesquisadores relataram para a Proceedings, os resultados sugerem que o fenômeno possa ser uma lembrança dos nossos antepassados, que eram muito mais ativos durante o verão do que no inverno, assim seus cérebros podem ter evoluído dentro dessa tendência. “Os seres humanos eram muito dependentes das estações há alguns milhares de anos, por isso não é surpreendente ver essa diferença do funcionamento cerebral de acordo com sazonalidade, acontece com a maioria das espécies”, disse o pesquisador-chefe Gilles Vandewall ao jornal The Telegraph. Ainda segundo ele, o mecanismo pode ser um remanescente do ritmo biológico de nossos ancestrais.

Segundo os cientistas, muitos fatores poderiam estar interferindo nessa mudança, incluindo a duração do dia, temperatura, umidade, interação social e atividade física. No entanto, antes sair por aí culpando o frio pelas notas baixas e queda de desempenho no trabalho, é preciso deixar claro que o estudo foi realizado em apenas 28 pessoas e que os cientistas planejam e precisam fazer uma investigação mais aprofundada.  

[ Foto: Reprodução / Wikipédia ]

Jornal Ciência