Bactérias em pulgas de 20 milhões de anos podem ser da peste bubônica

de Bruno Rizzato 0

A Peste Negra foi uma das epidemias mais devastadoras da história da humanidade, tirando a vida de mais de 200 milhões de pessoas durante o século 14 na Europa. Novos dados indicam que ela poderia já existir há milhões de anos, muito antes da chegada da raça humana ou dos nossos primeiros ancestrais. Pesquisadores descobriram agora, o que eles acreditam ser uma antiga linhagem de peste bubônica preservada em uma pulga presa em âmbar – resina fóssil – que data de 20 milhões de anos.

As bactérias fossilizadas poderiam ser relacionadas com a bactéria Yersinia pestis, que causa a peste bubônica depois de ser transmitida por pulgas de ratos e outros roedores. Os resultados sugerem que a doença possa ter causado surtos muito antes das pandemias que ocorreram entre 1346 e 1353. É possível que a doença tenha aparecido muito antes do Homo sapiens evoluir pela primeira vez, há cerca de 250 mil anos.

Na verdade, os primeiros hominídeos só começaram a aparecer na África há cerca de 6,5 milhões de anos. George Poinar Jr., um entomologista da Universidade Estadual de Oregon, nos EUA, e especialista em âmbar que liderou o estudo, disse: “Se esta for a antiga linhagem de Yersinia, seria extraordinário. Mostraria que a peste é realmente uma doença antiga que, sem dúvida, foi infecciosa e, possivelmente, causou alguma extinção de animais muito antes de existir qualquer ser humano. A praga pode ter desempenhado um papel muito maior no passado do que imaginávamos”.

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Os resultados, publicados no Journal of Medical Entomology, entram em conflito com estudos genéticos modernos, que indicam que o ciclo de pulgas que transmitem pragas a vertebrados evoluíram há 20.000 anos. No entanto, há evidências de que alguns surtos anteriores de Yesinia pestis foram causados por diferentes estirpes que estão agora extintas. Embora cepas humanas de Yesinia possam ter evoluído em torno de 20.000 anos atrás, cepas antigas que infectaram roedores e outros mamíferos poderiam ter aparecido muito antes, de acordo com o Dr. Poinar. A bactéria foi encontrada em uma pulga, mesmo local em que a bactéria da peste moderna é encontrada. Seu formato e tamanho são semelhantes aos da moderna Yersinia pestis. “Neste fóssil há presença de bactérias semelhantes a uma gota, secas e sobre a tromba de pulga, o achado é consistente com o método de transmissão das bactérias da peste por pulgas modernas”, disse Poinar.

A pulga fossilizada foi descoberta em minas de âmbar entre Puerto Plata e Santiago, na República Dominicana. Há milhões de anos, a área teria sido uma floresta tropical ideal para a evolução de mamíferos. As bactérias Yersinia pestis são transmitidas quando pulgas se alimentam de animais infectados com as bactérias. Elas, então, formam uma massa viscosa em um órgão localizado entre o estômago e o esôfago, forçando a saída pela tromba, sendo então passadas para a ferida quando a pulga tenta se alimentar novamente.

A peste bubônica é conhecida por ter influenciado diretamente o curso da história humana, resultando em mudanças sociais e políticas dramáticas durante o século 14. A animação à direita mostra como a doença se espalhou pela Europa. Ela voltou várias vezes no continente europeu e no Mediterrâneo, causando pandemias nos séculos 15, 16 e 17. No entanto, os novos resultados sugerem que a doença possa ter também desempenhado um papel em toda a história evolutiva dos mamíferos.

[ Daily Mail ] [ Foto: Reprodução / Daily Mail ]

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