Uma bomba termonuclear caiu em uma fazenda dos EUA em 1961, mas até hoje ninguém encontrou seu núcleo radioativo

de Merelyn Cerqueira 0

O desastre ocorreu na parte da manhã do dia 24 de janeiro de 1961, quando oito soldados patrulhavam os céus em uma região próxima a Goldsboro, na Carolina do Norte (EUA).

Eles eram considerados uma espécie de apólice de seguro contra um possível ataque nuclear russo.

Tal pensamento indicava que para o caso de um ataque, esses soldados, que guardavam duas grandes armas nucleares a bordo de um jato B-52G Stratofortress, as utilizariam como resposta. Com informações da Business Insider.

Cada uma dessas bombas termonucleares Mark 39 tinha cerca de 3,6 metros de comprimento e pesava cerca de 2.812 quilos. Elas poderiam ser detonadas, liberando uma energia de 3,5 milhões de toneladas de TNT.

Tal explosão poderia matar tudo e todos em um raio de 27 quilômetros. O fato é que esse avião a jato e seus três tripulantes nunca voltaram para a base, tampouco o núcleo de uma das bombas.

O avião quebrou quando estava cerca de 609 metros acima do solo, quase detonando uma das bombas no processo. Se a arma tivesse explodido, embalaria cerca de 250 vezes o poder explosivo da bomba lançada sobre Hiroshima.

“Broken Arrow”

Um acidente grave envolvendo uma arma nuclear é chamado de broken arrow” (ou “flecha quebrada, em tradução livre) e os militares dos EUA reconheceram oficialmente 32 deles desde 1950.

E o incidente sobre a Carolina do Norte em 1961 é um destes. Neste caso, o avião que carregava as duas Mark 39 sofreu um misterioso vazamento de combustível.

De acordo uma série de registros da imprensa local, o problema piorou rapidamente, com a aeronave perdendo controle da cauda, ao passo em que girava descontroladamente até que uma das comportas se abriu, liberando as duas bombas.

O avião caiu de nariz em um campo de tabaco, a poucos passos de Big Daddy Road, próximo a Goldsboro, NC, cerca de 96 quilômetros de Raleigh. Uma das bombas caiu em segurança, uma vez que ficou presa em uma árvore.

Ela foi encontrada rapidamente pelos militares, que a inspecionaram e a moveram para um caminhão.

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No entanto, o paraquedas da outra bomba falhou, fazendo com que ela caísse em um campo pantanoso e lamacento, quebrando-se em pedaços no processo. Equipes de escavação levaram cerca de uma semana para encontrar a bomba danificada e suas partes.

Os militares estudaram essas duas bombas e descobriram que seis dos sete passos de segurança para detoná-las haviam sido ativados.

Apenas um gatilho impediu a explosão – e esse interruptor, que de alguma forma não conseguiu detonar os explosivos, foi definido como “ARM”. Literalmente “pela menor margem de possiblidade, uma falha de dois fios impediu um desastre nuclear maior que Hiroshima nos EUA.

“Se o dispositivo tivesse detonado, as consequências poderiam ter ocorrido em Washington, Baltimore, Filadélfia e o norte de Nova York – colocando milhões de vidas em risco”, escreveu Ed Pilkington em uma reportagem para o The Guardian em 2013.

O mapa abaixo simula o raio de explosão e zona de precipitação que teria acontecido se a bomba em questão tivesse sido detonada:

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O núcleo termonuclear desaparecido

Ambas as bombas faziam parte de um projeto termonuclear da Guerra Fria. Assim, ao invés de um único núcleo, essas armas – do tipo mais poderoso da Terra – tinham dois. O primeiro, chamado de núcleo primário, quando explode, libera uma torrente raios X e outras radiações.

Estas radiações refletem no interior do invólucro da bomba, que age como um espelho para focalizar e definir o núcleo secundário, responsável por ampliar a potência de explosão do armamento. E foi justamente este segundo núcleo que desapareceu.

Enquanto os militares conseguiram recuperar completamente a bomba que ficou presa na árvore, o caso para a segunda bomba não foi igual. Seu núcleo secundário acabou desaparecendo para dentro da lama.

Relatórios sugerem que esse núcleo, feito em sua maior parte de urânio-238, poderia estar enterrado a mais de 30-60 metros de profundidade do chão do local do acidente.

A Business Insider chegou a entrar em contato com o Departamento de Defesa dos EUA (DoD) para saber mais sobre o status atual do núcleo desaparecido.

Um representante afirmou que nem o DoD, nem o Departamento de Energia do país ou a USAF têm “quaisquer projetos ou atividades em andamento para o local do acidente”, bem como não têm informações sobre o núcleo ter sido encontrado ou não.

No entanto, o mesmo representante enviou algumas respostas apresentadas a Joel Dobson, um autor local que escreveu o livro The Goldsboro Broken Arrow” (“A Flecha Quebrada de Goldsboro”, em tradução livre): “Nada mudou [desde 1961]. A Área não é marcada ou vedada. Ela está sendo cultivada. O DoD garantiu uma marca de cerca de 122 metros de diâmetro, a qual não permite a construção de qualquer coisa, apenas agricultura.

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Mas, de acordo com Michael O’Hanlon, um especialista em estratégia de defesa dos EUA, não muito com o que se preocupar. Claramente, que ter uma grande parte de uma arma nuclear em terras privadas é um pouco inquietante, mas eu não estou sugerindo que alguém perca o sono por causa disso”, disse ele.

“Seria preciso uma operação séria para chegar até ela, exigindo equipamentos de túneis e uma abordagem bastante óbvia e visível para o local por algum tipo de comboio rodoviário, presumivelmente”, acrescentou.

“Além disso, um núcleo secundário NÃO tem grandes quantidades de HEU ou plutônio, o que o torna menos perigoso uma vez que você não pode fazer uma arma nuclear a partir do zero”.

Contudo, O’Hanlon admite que espera que o DoD tenha considerado a possibilidade de alguém tentar roubar esse núcleo.

“Afinal de contas, equipamentos de escavação e tunelamento estão cada vez mais modernos e, aparentemente, não é nenhum segredo onde essa arma está localizada”. “Eu preferiria que ela não estivesse lá, mas não o considero isso um risco de segurança nacional, concluiu.

Fonte: ScienceAlert Fotos: Reprodução / ScienceAlert

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