Um dos venenos mais poderosos do mundo poderá ser usado como medicamento para dor

de Merelyn Cerqueira 0

Através de movimentos rápidos e eficazes a ameaçadora cobra-coral-azul-da-Malásia se alimenta de outras cobras para sobreviver.

Para imobilizar sua presa, ela emprega um veneno particularmente desagradável que faz dos últimos minutos de vida da vítima um verdadeiro inferno. Encontrada no sudeste asiático, a Calliophis bivirgatus, impressiona pela chamativa coloração que inclui cauda vermelha e listras azuis que se estendem por toda a extensão do corpo, de acordo com informações do Gizmodo.

Em um artigo publicado pela revista Toxins, pesquisadores da Universidade de Queensland, na Austrália, descreveram o veneno único e mortal desse réptil. Quase imediatamente após ser picada, a vítima entra em um estado catatônico agonizante, com seus músculos presos e flexionados. O veneno, chamado de caliotoxina, faz com que todos os nervos do corpo sejam ativados simultaneamente, provocando intensos espasmos. Paralisada e impotente, a presa finalmente é devorada pela serpente assassina.

Os cientistas afirmam que a evolução foi a verdadeira responsável por equipar a cobra com um veneno particularmente poderoso. Esta predadora é habituada a caçar outras cobras venosas rápidas e excepcionalmente perigosas. A caliotoxina é produzida e armazenada em uma glândula que se estende por quase um quarto do comprimento do corpo da cobra.

A toxina já era conhecida pelos cientistas, mas eles nunca a tinham visto em uma cobra ou qualquer outra espécie vertebrada antes. Alguns animais, como escorpiões e aranhas, desenvolveram versões semelhantes. Uma espécie conhecida como caracol-do-cone, por exemplo, é capaz de injetar uma forma similar de veneno em peixes, fazendo com que entrem em uma paralisia instantânea, para que os músculos tensos experimentem fortes espasmos.

O veneno da cobra age praticamente da mesma forma. Os cientistas acreditam que elas representem um exemplo bem claro de evolução convergente, em que um traço semelhante emerge de forma diferente em diferentes espécies.

Os pesquisadores se referem ao estado produzido pelo veneno como paralisia espástica, que, ao contrário da flácida, induzida por outro tipo de veneno de cobra, impede que os nervos se desliguem de seus canais de sódio, o que resulta em uma sensação de queimação contínua. “É como pressionar o pedal do acelerador dos nervos e em seguida cortar os freios”, conforme explicado por George Dvorsky, do Gizmodo.

Contudo, a caliotoxina pode ser usada pela farmacologia no desenvolvimento de novos medicamentos. Por esse motivo que, no momento, os cientistas estão particularmente interessados na capacidade analgésica que o veneno tem em seres humanos.

[ Gizmodo ] [ Foto: Reprodução / Tom Charlton ]

Jornal Ciência