Tumba de 6.000 anos pode ter sido o primeiro telescópio de astronomia do mundo

de Merelyn Cerqueira 0

De acordo com pesquisadores do Reino Unido, uma tumba de 6.000 anos de idade, localizada em Portugal, além de cova, também poderia ter servido o primeiro telescópico, sem lentes, de astronomia do mundo. O efeito visual criado pelo túnel, teria facilitado a observação das estrelas.

“A passagem, com seu longo corredor, agia como uma espécie de telescópico sem lentes – como um longo tubo que permitia a observação do céu”, disse o astrônomo Fabio Silva, da University of Wales Trinity Saint David, em entrevista ao The Guardian. “Suas características impactavam na forma como eles observam o céu em três ou quatro maneiras”.

Isso, segundo ele, inclui dirigir a atenção para uma parte em especial no céu, enquanto outra parte bloqueava a distração causada por estrelas e planetas. Além disso, é possível que o ambiente sem luz da estrutura megalítica, tenha ajudado os olhos a se adaptarem à escuridão, facilitando o discernimento de detalhes mais fracos, como estrelas mais distantes.

“Tudo o que eles precisavam fazer era ter certeza de que o local estivesse escuro, e assim conseguiriam ir além da pequena área no céu”, disse outro membro da equipe, Daniel Brown, de Nottingham Trent University.

A equipe acredita que o número dessas tumbas em Portugal, incluindo a Seven-Stone, em Antas, não tiveram suas entradas posicionadas por acidente ou mera casualidade. “As orientações dos túmulos podem significar um alinhamento com Aldebaran, a estrela mais brilhante da constelação de Touro”, disse Silva. “Para calcular com precisão a primeira aparição dessa estrela na temporada, era vital ser capaz de detectá-la durante o crepúsculo”.

Os pesquisadores também sugerem que os povos pré-históricos poderiam ter utilizado esses túmulos como calendário, ajudando-os a marcar a mudança das estações; terem servido como dispositivos ritualísticos, conferindo conhecimento especial para as pessoas que foram permitidas serem enterradas nessas sepulturas; ou até mesmo em ritos de passagens envolvendo jovens.

O estudo foi apresentado nesta semana durante o Encontro Nacional de Astronomia em Nottinghan, Inglaterra. Agora, os pesquisadores pretendem expandir suas hipóteses, replicando as condições de visualização da passagem. “Iremos simular a ascensão dessa estrela, em condições de crepúsculo, e permitir que as pessoas nos digam o que elas conseguem ver”, disse Silva. “Então, compararemos a um grupo de controle, de pessoas que estarão em um ambiente, onde as condições externas à sepultura serão replicadas”. A pesquisa também poderá lançar uma nova luz aos outros túmulos antigos semelhantes e esquecidos, grande parte deles presentes na Europa.

[ Foto: Reprodução / University of Wales Trinity Saint David / Nottingham Trent University ]

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