Truque simples faz com que possamos sentir “campo de força” em torno do corpo

de Merelyn Cerqueira 0

Nossos cérebros, como sabemos, estão cientes não apenas de nossos corpos, mas também do espaço imediato circundante.

Agora, uma nova versão do clássico experimento da “mão de borracha” – em que um pincel é passado repetidas vezes sobre a mão de uma pessoa e em uma de borracha simultaneamente; logo essa pessoa sentirá que a mão de borracha faz parte de seu corpo – promete criar a mesma sensação, mas com a percepção de um ‘campo de força’.

Conforme informado pela New Scientist, há décadas os neurocientistas sabem que nossos cérebros contêm representações do espaço que nos rodeia, conhecido como ‘espaço peripessoal’. Ele permite que possamos nos agarrar aos objetos em nosso alcance para nos protegermos.

Evidências neurocientíficas sobre esse fenômeno começaram a aparecer no final de 1990, por meio de estudos realizados em animais. O pesquisador Michael Graziano, da Universidade de Princeton, EUA, e seus colegas, gravavam a atividade elétrica dos neurônios localizados nas regiões parietal e lobos frontais do cérebro de macacos, quando descobriram que alguns desses neurônios eram disparados não só quando o corpo do animal era tocado, mas também quando algum objeto se aproximava dele.

Assim, quando os cientistas resolveram estimular diretamente esses neurônios, descobriram que os macacos, reflexivamente, moviam suas cabeças e membros para se protegerem. Por exemplo, fazendo caretas, fechando os olhos, virando a cabeça para lado e posicionando os braços em uma postura defensiva.

Embora ninguém ainda tenha repetido esse experimento em humanos, há evidências de que certas regiões do nosso cérebro lidem com o espaço peripessoal. Por exemplo, pessoas que já sofreram acidente vascular cerebral no lobo parietal posterior direito, não podem sentir estímulos no campo peripessoal do lado esquerdo do corpo. No entanto, podem sentir coisas que estão mais longe, fora desse espaço. “Isso sugere que existe uma representação semelhante aos encontrados em macacos no cérebro humano,” disse Arvid Guterstam do Instituto Karolinska, em Estocolmo, Suécia.

Essa, por enquanto, é a teoria. Agora, os cientistas têm tentando ‘enganar’ os seres humanos com truques sensoriais para ver se eles realmente podem sentir esse espaço. Para fazer isso, eles se voltaram para o truque da mão de borracha, explicado anteriormente. O afago do pincel, feito simultaneamente e a mesma velocidade, em alguns minutos pode fazer com que as pessoas sintam o toque das pinceladas na mão de borracha, como se lhes pertencessem. Logo, os pesquisadores notaram que essa ilusão não funciona se a mão de borracha estiver muito longe da mão real.

Em um novo estudo, realizado com 101 adultos, foram feitas algumas mudanças importantes no experimento. Ao invés de tocar a mão de borracha com o pincel, eles apenas a passavam acima, cerca de 10 cm de distância, ao passo que a mão real era tocada. Assim, enquanto o voluntário sentia o toque em sua própria mão, ele observava o movimento realizado acima da outra.

A maioria dos voluntários disseram ter sentido uma “força magnética” ou “campo de força” entre o pincel e a mão de borracha. Como se o pincel estivesse encontrando uma barreira invisível. Além disso, também relataram um senso de propriedade da mão de mentira. A equipe logo descobriu que essa sensação desaparecia quando as pinceladas eram dadas a 30 – 40 cm acima da mão. Esse então, parecia ser o limite do espaço peripessoal em qualquer parte do corpo.

A ilusão também desaparecia quando havia alguma barreira metálica e opaca entre a mão de borracha e o pincel. Segundo Graziano, “durante décadas a neurociência preencheu nosso conhecimento com margens especiais de segurança em volta do corpo. Agora nós descobrimos uma maneira inteligente de acionar esse fenômeno através de uma simples ilusão, fácil de ser realizada em laboratório”.  

[ NewScientist ] [ Foto: Reprodução / Flickr via Road Forcefield ]

Jornal Ciência