Tripofobia: cientistas descobrem que o transtorno do “pavor de buracos” está ligado ao desprazer e não ao medo

de Merelyn Cerqueira 0

A tripofobia é um transtorno conhecido por causar aversão nas pessoas por meio de sequências de buracos ou esferas, como a imagem de um favo de mel, por exemplo.

No entanto, um estudo realizado recentemente e publicado na PeerJ  descobriu que este medo, na verdade, pode estar associado a ansiedade e desprazer. Em experimentos, os pesquisadores descobriram que os tripofóbicos sentiam a mesma aversão quando observavam doenças infecciosas ou parasitas.

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“Algumas pessoas são tão intensamente incomodadas com a visão desses objetos que sequer conseguem ficar perto deles”, disse Stella Lourenco, uma psicóloga da Universidade Emory, cujo laboratório conduziu o estudo. “O fenômeno, que provavelmente tem uma base evolutiva, pode ser mais comum do que nós percebemos”.

Pesquisas anteriores já haviam relacionado as reações tripofóbicas a algumas das mesmas propriedades espectrais visuais compartilhadas por imagens de animais ameaçadores como cobras e aranhas.

Somos uma espécie incrivelmente visual”, disse Vladislav Ayzenberg, estudante de pós-graduação no laboratório de Lourenço, principal autor principal do estudo.

“Propriedades visuais de baixo nível podem transmitir uma grande quantidade de informações significativas. Essas pistas visuais nos permitem fazer inferências imediatas – se vemos parte de uma cobra na grama ou uma cobra inteira – reagimos rapidamente a um perigo potencial”.

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É bem estabelecido que imagens de animais ameaçadores geralmente provocam reações de medo em quem observada, devido a uma ação do sistema nervoso simpático. Com isso, o coração e a respiração aceleram e as pupilas se dilatam, e esta excitação é conhecida como resposta de luta ou fuga.

Para o estudo os pesquisadores buscaram testar se essa mesma resposta fisiológica estava associada a imagens aparentemente inócuas de furos. Assim, por meio de uma tecnologia de rastreamento ocular, mediram as mudanças no tamanho da pupila para diferenciar as respostas dos participantes (estudantes universitários que não relataram ter tripofobia) do estudo a imagens de furos, animais ameaçadores e imagens neutras.

Logo, ao contrário das imagens de cobras e aranhas, as de furos provocaram maior constrição das pupilas – uma resposta associada ao sistema nervoso parassimpático e sentimento de desprazer.

Basicamente, as imagens de animais ameaçadores e aglomerados de buracos provocaram uma reação aversiva”, diz Ayzenberg.

“Nossas descobertas, no entanto, sugerem que os fundamentos fisiológicos para essas reações são diferentes, mesmo que a aversão geral possa ser enraizada em propriedades visuais espectrais compartilhadas”.

Em contraste com uma resposta de luta ou fuga, que orienta o corpo a uma ação, uma resposta parassimpática retarda a frequência cardíaca e respiração, contraindo também as pupilas. “Essas pistas visuais sinalizam o cuidado do corpo, ao mesmo tempo o fecham, como que para limitar sua exposição a algo que poderia ser prejudicial”, explicou Ayzenberg.

Uma das teorias dos pesquisadores é que a imagem de buracos pode ser, evolutivamente falando, um indicativo de contaminação e doenças – sinais visuais de alimentos podres ou mofados ou uma pele prejudicada por uma infecção.

“O fato de termos encontrado efeitos nesta população sugere um mecanismo visual bastante primitivo e penetrante subjacente à aversão aos buracos”, explicou Lourenco.

Pesquisas anteriores já sugeriram que o transtorno pode estar ligado a uma predisposição evolutiva em relação a formas encontradas em animais venenosos. No entanto, o novo estudo sugere que poderia ser apenas uma resposta evolutiva às doenças infecciosas.

Fonte: Daily Mail / Psychological Science Fotos: Reprodução / Daily Mail / Playtech

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