Somente a genética influencia o desenvolvimento intelectual?

de Julia Moretto 0

A inteligência é considerada uma das características mais analisadas na genética comportamental. Ela está relacionada com fatores como fonte de renda, expectativa de vida e até felicidade.

De acordo com pesquisas, o desempenho acadêmico, habilidades de leitura e QI têm ligação direta com as bases genéticas, nos fazendo acreditar que a inteligência está em nossos genes. Porém, essa lógica pode fazer com que comunidades recusem medidas educacionais por acreditarem que investir no ambiente não irá afetar sua capacidade inata.

No entanto, os genes não são o destino. O ambiente em que a criança cresce interfere diretamente em sua inteligência.

Genes da inteligência

Ao produzir seus efeitos, os genes podem atuar de diferentes formas. Alguns podem promover diferenças comportamentais, fazendo com que a pessoa frequente lugares que possam estimular mais seus estudos. Outros genes têm a capacidade de alterar a química cerebral, possibilitando que a pessoa aprenda com mais facilidade.

Os cientistas acreditam que a inteligência seja mais influenciada pelos genes comportamentais. Isso nos mostra que a criação de uma pessoa e o ambiente em que ela está inserida têm tanta importância quanto os genes relacionados à cognição. 

Vertentes da inteligência

Procurando entender esse fenômeno, pesquisadores se questionaram se haveria como saber se os melhores resultados em testes são causados por um gene que trabalha diretamente na inteligência ou se existe outro fator envolvido.

Para entender melhor, veja esse exemplo: e se uma criança que lê melhor tiver esse resultado por gostar mais do cheiro do livro do que outras? Esse exemplo nos faz entender que há variados fatores envolvidos na habilidade de leitura, além da própria inteligência. Ainda neste caso, o gene responsável pela habilidade de leitura não era apenas o da inteligência, mas sim o do gosto olfativo.

Novos fatores

O temperamento e a personalidade são fatores decisivos para que uma pessoa escolha frequentar um tipo específico de ambiente.

Por exemplo, crianças mais confiantes têm mais chances de procurar atividades educativas extras, enquanto as mais inseguras preferem realizar apenas as indicadas em sala de aula. Já crianças extrovertidas podem ficar menos tempo em um local que estimule o estudo do que que aquelas que preferem passar o tempo sozinhas. Devido a esses fatores, os cientistas precisam levar em consideração outras características para o estudo da inteligência.

Programa Head Start

Um caso semelhante aconteceu em 1960, quando o geneticista americano Arthur Jensen criticou o programa educacional Head Start (“vantagem inicial” em tradução livre). No projeto, as crianças de famílias em situação de risco iam para escola durante as férias para que pudessem receber orientação especial para a primeira série. Para Jean, o programa era um desperdício de dinheiro, já que a inteligência era apenas genética e não dependia do ambiente.

Esse posicionamento gerou grandes discussões sobre o preconceito e o racismo, devido à maior parte dessas crianças ser afrodescendente. No entanto, o programa foi mantido e ajuda diversas crianças até hoje. Em 2005, 2 milhões de crianças participaram dele.

Ainda é necessário muito estudo sobre a inteligência e suas vertentes, mas pensar que ela dependa exclusivamente de seu histórico familiar ou genético é uma possibilidade descartada pelos cientistas.

[ Hyper Science ] [ Foto: Reprodução / Hyper Science ]

Jornal Ciência