Praga de serpentes na ilha de Guam já está devastando todo o ecossistema local

de Merelyn Cerqueira 0

Localizada em uma pequena porção de terra em meio ao Oceano Pacífico, entre as Filipinas e Nova Guiné, Guam, pertencente aos Estados Unidos, é o lar de cerca de 160 mil habitantes.

No entanto, muito além do que alguns milhares de pessoas, ela é conhecida por hospedar uma invasão de cobras-arbóreas-marrons venenosas (Boiga irregularis) que já causaram muitos problemas, especialmente à população animal nativa, de acordo com informações da Science Alert.

No entanto, em uma pesquisa publicada recentemente na revista Nature Communications, cientistas mostraram que o problema não aflige apenas pássaros e roedores, mas também o crescimento de novas árvores.

Eles estimam que número delas poderia estar caindo em uma taxa de até 92% em razão do apetite das cobras. 

Com seus 544 quilômetros quadrados de extensão, a ilha também é famosa por ter sido invadida e dominada pelos japoneses durante a Segunda Guerra Mundial, antes de ser libertada por forças americanas em 1944.

As características cobras surgiram ali logo após a libertação da ilha. Acredita-se que elas tenham sido trazidas acidentalmente em equipamentos militares dos EUA vindos da Papua Nova Guiné. 

Embora seja considerada venenosa, e espécie não é excessivamente perigosa para os seres humanos. No entanto, para os animais, a história é diferente. 

Desde que os animais selvagens de Guam evoluíram para se adaptar à presença dessas predadoras, as florestam também o fizeram para ajudar esconder as invasoras, que hoje podem existir ali em um número de dois milhões – com densidade de 5.000 exemplares por quilômetro quadrado.

As cobras são tão abundantes em Guam que foram capazes de danificar sistemas elétricos, causando prejuízos de mais de 4,5 milhões de dólares nos últimos sete anos. No entanto, foi o ecossistema local que mais sofreu.

Em meados das décadas de 1980, 10 das 12 espécies de aves nativas da ilha tinham desaparecido, incluindo uma espécie de martim-pescador (Chloroceryle americana) endêmico da região.

De acordo com o pesquisador Haldre Rogers, da Universidade do Colorado, o canto dos pássaros que ecoava de Guam para ilhas vizinhas hoje já não existe mais. “Há muito silêncio – é uma sensação estranha”, acrescentou. Agora, conforme apontado pelo estudo, o silêncio dos pássaros teve um efeito semelhante na população de árvores, uma vez que eles são responsáveis por espalhar as sementes delas pela floresta.

Para efeito de comparação, em Guam, menos de 10% das sementes de todas as árvores chegam ao chão, enquanto que em outras ilhas sem cobras esse número é de 60%. 

“Além dos morcegos frutívoros, que também estão em extinção na ilha, não há mais nada ali para ajudar as sementes a se dispersarem”, disse Rogers.

Considerando que mais de dois terços as árvores da ilha dependem desses animais para poderem germinar suas sementes, o impacto da redução das aves deverá afetar algo entre 61% e 92% do crescimento florestal.

Em 2015, o governo dos EUA investiu cerca de 8 milhões de dólares em um programa para tentar erradicar as cobras no local. A arma química de escolha era uma dose de paracetamol, também conhecido como acetaminofeno, que é tóxico para muitas espécies animais – incluindo a B. irregularis.

A droga foi aplicada em ratos mortos que foram atirados para a floresta. No entanto, uma pesquisa recente também mostrou que a maioria das serpentes são capazes de examinar suas iscas antes de comê-las, o que pode ter parcialmente afetado a operação.

Ainda, considerando que Guam é o lar de um número considerável de bases militares, há uma preocupação que as cobras possam, mais uma vez, embarcar acidentalmente em equipamentos e causar problemas similares em outras ilhas.

Fonte: Science Alert Fotos: Reprodução / Science Alert

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