Pesquisa aponta relação entre bactérias e câncer de mama

de Julia Moretto 0

Você provavelmente já ouviu que todo ser humano tem um conjunto exclusivo de bactérias que vive em seu intestino e que pode estar associado à fadiga crônica e, consequentemente, ao controle de seu apetite e peso.  

O que você pode não saber é que as bactérias também vivem no tecido mamário feminino. Uma nova pesquisa encontrou evidências de que o microbioma que se instala na mama de uma pessoa pode prevenir ou promover o crescimento do Câncer de mama. Pensa-se que apenas 5 a 10 por cento de todos os Cânceres da mama sejam hereditários, o que significa que há muitos fatores diferentes que podem contribuir para o risco da doença, incluindo idade, peso, raça e tratamentos de Câncer anteriores.

Curiosamente, desde os anos 1960, os cientistas têm em mente que mulheres que tiveram filhos e amamentaram têm menos risco de desenvolverem Câncer de mama. Já as mulheres que não tiveram uma gravidez até os 30 anos de idade, apresentam risco mais elevado. Recentemente, os cientistas tentaram encontrar uma causa biológica para explicar esta ligação, e sugeriram que as bactérias presentes no leite materno poderiam desempenhar um papel na proteção da matriz que desenvolve o Câncer da mama.

Na verdade, até dois anos atrás, os cientistas acreditavam que o tecido mamário era inteiramente estéril – o que significa que não continha bactérias.  Um documento de 2014 mudou essa ideia, quando os cientistas da Universidade Ocidental em Ontário, no Canadá, revelaram que os seios contêm uma comunidade diversificada de bactérias que podia contribuir para a manutenção do tecido mamário saudável.

O grupo realizou um novo estudo, que foi publicado na Applied and Environmental Microbiology, para descobrir exatamente que tipos de bactérias estão presentes no tecido mamário e para saber se elas aparecem na mesma proporção das mulheres diagnosticadas com Câncer de mama.

Eles analisaram as amostras de tecido mamário com o DNA bacteriano de 58 mulheres que passavam por tratamento de lumpectomia ou mastectomia para formas benignas (13 participantes) ou de tumores cancerosos malignos (45 participantes). Os especialistas compararam o resultado com as 23 amostras de mulheres saudáveis ​​que nunca tinham sido diagnosticadas com Câncer de mama.

Eles descobriram que nas mulheres com Câncer da mama, ocorriam níveis mais elevados de bactérias como enterobacteriaceae, staphylococcus e bacillus, que em estudos anteriores demonstraram induzir quebras de cadeia dupla de ADN em células HeLa humanas – um tipo particular de dano no DNA que tem sido associado ao desenvolvimento de Câncer. As participantes sem Câncer de mama tiveram maior incidência de bactérias como lactococcus e streptococcus, de fortes propriedades anticancerígenas.

De acordo com a equipe, um exemplo disso são as bactérias Streptococcus thermophilus, que produzem antioxidantes que neutralizam uma classe de moléculas chamada Espécies Reativas de Oxigênio – que provoca o tipo de dano associado ao câncer. As quebras de cadeia dupla mencionadas anteriormente são aparentemente causadas por espécies reativas de oxigênio, por isso, pode ser que algumas mulheres possuam bactérias em seus seios e desenvolvam o câncer de mama, enquanto outras que outras configurações de grupo de bactérias possam colaborar para a prevenção da doença.

Segundo o pesquisador Gregor Reid, os resultados “sugerem que micróbios no peito, mesmo que em pequenas quantidades, podem ter um papel no Câncer da mama – aumentando o risco em alguns casos e diminuindo o risco em outros casos“.

Para ser claro, esta amostra é muito pequena e não representa a diversidade de mulheres que podem ser afetadas. A boa notícia é que mais pesquisas serão realizadas para confirmar a hipótese de que certas colônias bacterianas possam aumentar ou diminuir a chance de desenvolver Câncer de mama. A equipe sugere que algumas espécies de bactérias possam evitar o Câncer de mama de uma mulher, agindo como um probiótico que garante maior proteção.

[ Science Alert ] [ Foto: Reprodução / Portal Vital

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