Pais criam polêmica por tentarem curar o câncer do filho com maconha

de Merelyn Cerqueira 0

Quando tinha apenas 10 anos, Deryn Blackwell foi diagnosticado leucemia. Cerca de 18 meses depois, foi informado da existência de um segundo câncer, um sarcoma de células de Langerhans, considerado extremamente raro.

Como sentia muitas dores, passou a fazer uso de morfina, até que se tornou viciado no medicamento.

Em 2013, quando tinha apenas 14 anos, foi transferido para um hospício, onde esperava morrer. Mas, isso até seus pais irem contra as indicações médicas e lhe fornecerem maconha para tratar a dor.

Então, desde que começou a usar a droga, Deryn, agora com 17 anos, teve uma recuperação milagrosa, e sua mãe, Callie Blackwell, revelou sua história em um livro. 

Segundo Callie, quando Deryn começou a sentir muitas dores, “as pontas de seus dedos haviam ficado enegrecidas e contaminadas por uma infecção bacteriana. Suas unhas estavam descascando e toda a carne viva remanescente coberta de dolorosas feridas”.

 

“Todos os dias ele me implorava: ‘Por favor, diga a eles para cortarem minha mão, mãe. Não aguento mais isso’”. Cada vez pior, ele havia se tornado viciado em morfina. Enquanto lhe era permitindo uma dose a cada sete ou oito horas, de uma em uma hora, ele pressionava as enfermeiras para conseguir mais. “Quando posso tomar minha ciclizina”, dizia ele, segundo lembrou a mãe. “É a única coisa que me ajuda com a dor e ajuda a me fazer sentir seguro. Não dói por um tempo, só o tempo suficiente para eu esquecer, então tudo volta”.

Mas, se lhe era dito para esperar, Deryn ficava zangado e agressivo, como alguém viciado em heroína, contou a mãe. “Eu conhecia pessoas viciadas em drogas e, apenas algumas semanas depois de seu 14º aniversário, meu filho estava passando pelas mesmas coisas”, disse. “Nós não podíamos sentar e vê-lo passar seus últimos dias em uma névoa de morfina”, continuou. “Aquilo tudo já era suficiente. Então eu fui para a cidade e comprei uma caneta vaporizadora – um equipamento especializado para fumar uma droga ilegal”.

Diagnosticado primeiramente com uma leucemia, pouco mais de um ano depois ele descobriu ter um sarcoma de células Langerhans, extremamente raro, considerando que apenas cinco pessoas em todo o mundo o têm. Ainda, a medicina nunca havia registrado esses dois tipos de cânceres juntos, o que faz de Deryn um caso de “um e sete bilhões”.

Em 2013, quase depois de quatro anos de tratamento hospitalar, a única esperança que restava em sua vida eram opiáceos que usava para aliviar a dor. Sabendo disso, a mãe, desesperada, tentava encontrar uma solução alternativa para aliviar seu sofrimento.

“Eu passei horas após horas pesquisando na internet, e foi aí que me deparei com relatos de uma substância chamada Bedrocan, um analgésico à base de cannabis que não estava disponível no Reino Unido”, disse. “Certamente Bedrocan tinha que ser uma opção melhor do que a morfina”.

*** COLLECT IMAGE FROM THE BOOK, THE BOY IN 7 BILLION- NO SYNDICATION - NO LIBRARY *** Deryn Blackwell, July 2010 Credit Callie Blackwell Image via Julie Adams

Mas, os médicos lhe disseram que, embora fosse eficaz, o medicamento não havia sido testado em crianças, e por isso não poderiam prescrevê-lo.

“Tomamos uma decisão que horrorizaria muitos pais – e que me horrorizou também”, disse. “Eu nunca tinha visto nada positivo vindo da maconha, e em meus dias trabalhando em boates noturnas, as drogas ilegais tinha sido minhas inimigas”, disse.

“Mas, se pudesse ajudar meu querido menino a escapar de seu tormento diário, eu estava disposta a experimentar”.

Ela revelou então que, junto com o marido, Simon, providenciou uma forma de conseguir a droga. “Toda a experiência foi assustadora.

A cannabis era uma droga de classe B, que garante uma sentença de até cinco anos de prisão por posse e até 14 anos para o fornecimento”.

Segundo ela, o marido assumiu a responsabilidade pela operação. “Ele não ia permitir que ninguém me tirasse de perto das crianças”, contou.

Quando Deryn enfrentou um último recurso fornecido pelo hospital, um transplante de medula óssea que falhou, a equipe começou a desistir dele.

“Parecia que sua morte era certa e tudo o que poderíamos fazer era esperar até que desse seu último suspiro”, disse ela. Foi então que decidiu fornecer a maconha para o filho – embora estivesse se sentindo ansiosa sobre a perspectiva de prover drogas ilegais ao filho menor de idade.

“Sentíamo-nos como crianças travessas que se escondiam em galpões para fumar cigarros roubados”, disse.

Após fechar todas as janelas e cortinas de casa, com a intenção de não espalhar o cheiro, ela deu a caneta ao menino.

Esperando sentir o cheiro característico da maconha, foi surpreendida ao notar que o cheiro, conforme descreveu, era semelhante ao de pipoca. 

Depois de fumar a caneta por cerca de 10 minutos, Deryn teria dito à mãe que a dor havia diminuído e se sentia relaxado. “Eram as palavras que eu estava desejando ouvir”, disse ela.

Contudo, a condição de Deryn começou a piorar, e em dezembro de 2013 teve que ser internado em um hospício, onde regularmente planejava seu próprio funeral. Ansioso pela própria morte, certa noite acordou desesperado dizendo que não queria mais fazer uso da morfina.

A mãe, que estava ao seu lado, tentou aliviar a crise do menino fornecendo sorrateiramente um pouco de uma substância doce como mel que havia preparado à base de cannabis. Então, após meia hora, ele afirmou se sentir pacífico e relaxado. No momento em que uma enfermeira entrou em seu quarto para lhe aplicar a dose diária de morfina, ele recusou – algo que surpreendeu a todos. “Não tenho mais necessidade disso, obrigado”, teria dito ele antes de se virar e dormir.

A mãe seguiu medicando o filho com a substância à base maconha e, aos poucos, foi notando uma relativa melhora em sua condição.

Os dedos do garoto já não estavam mais enegrecidos, o que fez com que ela entrasse em contato com a equipe médica.

Embora os médicos não soubessem explicar o que havia acontecido, eles tinham certeza que não estava relacionado ao transplante de medula, uma vez que este não havia funcionado.

Então, após passado um mês internado no hospício, os médicos disseram à mãe que já não sabiam se Deryn ainda corria risco de morte e liberaram-no para ir para casa. 

“Quando chegamos, quatro semanas antes, ele recebera três dias para viver. Agora, ali estava, um mês mais tarde, muito melhor de saúde do que quando deixara o quarto do hospital. Eles não tinham ideia de como isso era possível”, revelou ela.

“Então me ocorreu. Só uma coisa tinha mudado desde que Deryn começou a se recuperar: a cannabis. Eu não poderia dizer aos médicos o que tínhamos feito”.

“Eu tinha certeza de que as autoridades não veriam da mesma maneira como nós, mas se houvesse mesmo uma chance minúscula de que a cannabis fosse responsável por meu filho ainda estar vivo, eu não estava disposta a arriscar parar”, disse.

“Eu queria contar ao mundo, compartilhar com todos, incluindo os médicos, para que eles pudessem ajudar os outros, mas eu sabia que era muito perigoso”, continuou.

Callie disse ter encontrado uma correlação entre a droga e a doença do filho quando notou que a contagem sanguínea do menino melhorava todas as vezes que fumava, e caía quando não o fazia. Isso, segundo ela, foi uma evidência suficiente para considerar que a maconha estava desempenhando um papel vital em sua recuperação.

Desde então, ela passou a divulgar a história do garoto, com ajuda da escritora Karen Hockney, e em um livro chamado “The Boy In 7 Billion” (“O garoto em sete milhões, em tradução livre), na esperança de que pais na mesma situação confiassem no caminho que tomou

Deryn eventualmente retornou à escola em Norfolk, na Inglaterra, onde conseguiu completar os estudos. Hoje com 17 anos, decidiu seguir carreira como chefe de cozinha vegano.

À medida que cresce, a perspectiva do retorno de seu câncer diminui. Embora provavelmente nunca se torne completamente livre desse medo, segundo a mãe, ele aprendeu a lidar melhor com a ideia e o futuro.

Fonte: Daily Mail Foto: Reprodução / Daily Mail / Youtube

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