Olhar fixamente nos olhos de outra pessoa por 10 minutos pode induzir alucinações

de Merelyn Cerqueira 0

Em um experimento conduzido pelo pesquisador Giovanni Caputo, da Universidade de Urbino, na Itália, que envolveu 20 jovens adultos (sendo 15 mulheres), descobriu-se como induzir um estado de alteração de consciência – livre de drogas – apenas fazendo com que os voluntários olhassem um para o outro por 10 minutos seguidos.

 

A tarefa não apenas trouxe experiências estranhas aos voluntários, como também causou alucinações. Os voluntários foram colocados em uma sala mal iluminada a um metro de distância um do outro, de modo que se olhassem por cerca de 10 minutos, enquanto que, um grupo de controle fez o mesmo, mas com o próprio rosto. A iluminação era suficiente para distinguirem características faciais, mas ineficaz para a percepção global de cores. A informação fornecida aos participantes falava apenas sobre “uma experiência meditativa de olhos abertos”.

 

Uma vez que os 10 minutos acabavam, os voluntários eram convidados a preencher questionários relacionados ao que experimentaram durante e depois da experiência. As perguntas focalizaram nos sintomas dissociativos que eles poderiam ter experimentado, bem como o que perceberam no próprio rosto e o do parceiro. “Dissociação” é um termo utilizado pela psicologia para descrever uma gama de experiências psicológicas que faz uma pessoa sentir-se imediatamente desprendida do ambiente em que está.

 

Os sintomas incluem perda de memória, visão distorcida das cores e sentimento de que o mundo não é real, podendo ser provocados por abuso de drogas e traumas. Os participantes do grupo que encararam (uns aos outros) disseram ter tido experiências diferentes de tudo o que tinham sentido antes”, escreveu o pesquisador Christian Jarret para o Research Digest da British Psychological Society.

 

Segundo Caputo, os resultados sugerem que algo sobre o olhar humano tem efeitos profundos na percepção visual e estado mental. “No teste dos estados dissociativos, eles deram as classificações mais fortes a itens relacionados à intensidade de cor reduzida, sons mais silenciosos ou mais altos do que o esperado – 75% disse ter visto um monstro, 50% disse ter visto aspectos de seu rosto no rosto de seu parceiro e 15% disse ter visto o rosto de um parente”.

 

Os resultados foram associados ainda a resultados encontrados por Caputo em 2010, quando realizou uma experiência semelhante em 50 voluntários. Ele relatou em um artigo que depois de menos de um minuto, as pessoas começam a ver “ilusões faciais estranhas”.

 

“As descrições dos participantes incluíam deformações de seus próprios rostos, rostos de pais vivos ou falecidos, rostos arquetípicos como uma mulher idosa, criança ou o retrato de um antepassado, rostos de animais como um gato, porco ou leão, e até mesmo seres fantásticos”, escreveu a pesquisadora Susana Martinez-Conde e Stephen L. Macknik para Scientific American. “Todos os 50 participantes relataram sentimentos de ‘alteridade’ quando confrontados com um rosto que parecia subitamente desconhecido. Alguns sentiram emoções poderosas”.

 

Martinez-Conde e Macknik explicaram que é provável que isso ocorra devido à chamada “adaptação neural”, que descreve como nossos neurônios podem reduzir ou até mesmo parar suas repostas de estimulação. Isso ocorre quando olhamos para uma cena ou objeto por um longo período de tempo. Logo nossa percepção começa a desaparecer, até piscarmos ou desviarmos o olhar.

[ Fone: Science Alert ]

[ Fotos: Reprodução / Science Alert ]

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