O que acontece no cérebro de uma pessoa que não consegue soletrar?

de Merelyn Cerqueira 0

Através de mapeamento cerebral, neurocientistas conseguiram identificar as áreas responsáveis pela formação das palavras e o que acontece quando uma pessoa não consegue soletrar.

Para quem possui condições como a dislexia, ler, escrever e soletrar podem parecer tarefas muito difíceis e frustrantes.

No entanto, em um estudo publicado pela revista Brain, neurocientistas identificaram as áreas do cérebro responsáveis pela construção das palavras, através de uma pesquisa realizada com vítimas de Acidente Vascular Cerebral (AVC). Eles foram capazes de identificar e relacionar as dificuldades básicas de ortografia com danos em regiões aparentemente diferentes no cérebro.

De acordo com a publicação “Soletrar envolve a recuperação de informações de letras e sua ordem nas palavras, atividades realizadas através da memória de longo prazo, bem como a manutenção e processamento dessa informação que é feita pela memória de trabalho (ou de curto prazo) preparando para a ação do sistema do motor”.

O estudo envolveu 15 anos de trabalho e identificou que algumas das pessoas apresentaram deficiências na ortografia após sofrerem AVC.

Entre elas, algumas possuíam dificuldades na memória de longo prazo, enquanto que outras, na memória de trabalho – responsável pelo processamento de informações novas e já armazenadas, pelo raciocínio, compreensão, aprendizagem e atualização da memória. Com dificuldades na memória de longo prazo, as pessoas não são capazes de soletrar e tendem a fazer suposições e adivinhar, de acordo com os pesquisadores.

No entanto, as pessoas com problemas na memória de trabalho sabem soletrar, mas elas têm dificuldades em escolher as letras corretas, ou montá-las na ordem certa.

Utilizando um mapeamento cerebral feito no computador, os cientistas descobriram que, nos casos de memórias de longo prazo, os danos apareceram em áreas do hemisfério esquerdo, mais especificamente nas regiões posterior esquerda, frontal inferior (utilizada para o processamento da linguagem) ou no córtex temporal ventral esquerdo, que está envolvido no processamento de memórias visuais e de linguagem.

Já no caso das memórias de trabalho, os danos também foram identificados no hemisfério esquerdo, mas em áreas diferentes: na parte superior do cérebro, no córtex parietal esquerdo e no sulco intraparietal. As principais funções destas áreas envolvem o movimento feito pelos olhos, atenção visual, bem como a memória visual e espacial. 

Enquanto os cientistas tentam entender como o cérebro lida com a leitura, a nova descoberta já oferece algumas das primeiras evidências de como ele age no processo da soletração. Os resultados podem guiar os estudiosos ao desenvolvimento de tratamentos para distúrbios comportamentais e proporcionar formas mais eficazes de se ensinar ortografia.

Fonte: Daily Mail Foto: Reprodução / Wikipédia

Jornal Ciência