O mistério das folhas azuis das begônias

de Merelyn Cerqueira 0

De acordo com um estudo publicado na revista Nature Plants, uma espécie de begônia – Begonia pavonina, encontrada em florestas tropicais na Malásia – mostrou ser capaz de se adaptar às condições de sombra ou pouca luz de um ambiente.

Ela apenas utilizou o brilho azul de suas folhas para conseguir manipular o processo de fotossíntese. O uso biológico por trás da coloração azul há décadas intrigava os cientistas. Tal descoberta representa um grande passo no desenvolvimento de dispositivos para ajudar nas colheitas, segundo informações do Daily Mail.

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Existem mais de 1.500 espécies de begônias no mundo, no entanto, a função biológica por trás do brilho azulado presente nas folhas ainda era um mistério. Basicamente, elas utilizam o método incomum para poder aproveitar a luz de um ambiente pouco iluminado. O estudo em questão, excluiu hipóteses anteriores que diziam que o fenômeno servia para deter predadores. De acordo com a pesquisadora Heather Whitney, da Universidade de Bristol, na Inglaterra, o mecanismo funciona pela combinação de uma coleta de luz e estrutura fotônica.

Descobrimos sob o microscópio, cloroplastos individuais nas folhas que refletem a luz azul brilhante, quase como um espelho”, disse o pesquisador Matt Jacobs, estudante de PhD na Universidade de Bristol. “Olhando mais detalhadamente, e usando uma técnica conhecida como microscopia eletrônica, encontramos uma diferença marcante entre os ‘cloroplastos azuis’ das begônias, também conhecido como ‘iridoplastos’, devido à sua coloração azul iridescente, e aqueles encontrados em outras plantas”.

Os iridoplastos, presentes nas camadas mais superficiais da folha, contêm pilhas regularmente espaçadas de três a quatro tilacoides – que se assemelham a cristais fóticos e remetem fortemente comprimentos de ondas de luz entre 430 e 560 nanômetros. Em resultado disso, há a coloração azulada. Estes tilacoides são semelhantes às estruturas artificiais usadas para fazer lasers em miniatura e ajudam a controlar o feixe de luz.

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Os iridoplastos concentram comprimentos de onda mais específicos no aparato fotossintético da planta, aumentando a eficácia de sua fotossíntese em 5-10%. De acordo com os pesquisadores, a estrutura interna se arranja em camadas extremamente uniformes, de apenas 100 nanômetros de espessura – 1000 vezes a largura do cabelo humano. Os cloroplastos, então, colhem a luz solar para convertê-la em energia química para a planta, com essa luz sendo inicialmente absorvida pelos tilacoides, que se amontoam em grandes pilhas.

Um dos motivos para a popularidade das begônias é que elas são capazes de sobreviver em ambientes fechados, sem a luz solar direta. Isso ocorre porque, quando em habitat natural, elas recebem pouca luz para sobreviver. Os pesquisadores afirmam que essa capacidade de concentrar ondas específicas no aparato fotossintético foi aperfeiçoada conforme sua evolução. Logo, o mesmo poderia ser usado para aumentar o rendimento das colheitas ou dispositivos artificiais. No entanto, mais pesquisas precisam ser realizadas, porque a begônia ainda esconde mais segredos, sendo especialmente diferente das plantas comuns que cultivamos em casa.

[ Daily Mail ] [ Fotos: Reprodução / Daily Mail ]

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